Volta às aulas: você sabe elaborar um bom planejamento anual de acordo com a BNCC?

31 de janeiro de 2020


Todo professor sabe que, com o início do ano, também começa a fase de encontros pedagógicos e as reuniões de planejamento escolar. Mas, em 2020, além de se preocuparem com o que será ensinado ao longo do ano letivo, tanto o corpo docente quanto a gestão escolar precisam ficar atentos para projetar o planejamento anual de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

O documento, extenso e detalhado, passa a ser obrigatório a partir deste ano, e muitos profissionais ainda encontram dúvidas de como adaptar seus planejamentos de acordo com a nova norma. Por isso, a Editora do Brasil organizou um artigo para te indicar o norte na hora de criar seu planejamento anual de acordo com a BNCC. Vem conferir!

Planejamento anual: mais do que apenas “o que ensinar”

O planejamento escolar anual requer tempo e dedicação. Em linhas gerais, é nessa etapa que se decide o que os alunos devem aprender durante o ano letivo e como a ação será feita. Isso requer reuniões detalhadas entre todo o corpo docente em parceria com a gestão que, juntos, devem decidir quais passos cada turma (e, assim, a escola como um todo) seguirá. A realização de um bom planejamento inclui, portanto, três etapas: a realidade, a finalidade e o plano de ação

Não é possível criar um planejamento anual e um plano de ação sem compreender a realidade dos alunos e da comunidade escolar, e é por isso que a primeira fase possui essa denominação. Neste momento, o professor, já com a sala atribuída, deve tomar conhecimento do histórico de aprendizagem de cada novo aluno – e ninguém melhor que os professores que já lecionaram para os mesmos estudantes nos anos anteriores para fornecer essa informação. Assim, o novo professor terá um resumo do nível que sua sala está e, a partir de tal realidade, pode traçar percursos personalizados para a turma. 

Quando esta etapa do encontro pedagógico estiver concluída, é normal que cada professor desenvolva estratégias personalizadas para suas turmas, de acordo com o que aprendeu sobre o perfil, educacional e pessoal, de cada aluno. Não é necessário que todos os caminhos sejam iguais, mas é preciso que um único objetivo norteie os diversos percursos – a finalidade, independente do caminho, é que o aluno aprenda. É com este contexto em mente que se deve adentrar na segunda e terceira etapa da elaboração de um bom planejamento escolar anual. 

O planejamento anual de acordo com a BNCC

A segunda etapa consiste na finalidade, ou seja, no que se quer que o aluno aprenda. Esse momento deve contar com o apoio incondicional da gestão escolar. Isso porque o que o professor irá ensinar deve estar de acordo com o Projeto Político Pedagógico e curricular da escola, que alinha todas as turmas em seus ciclos de ensino. Já a escola, por sua vez, deve seguir os currículos estaduais, municipais e/ou particulares, o que alinha todas as instituições da mesma jurisprudência. 

Assim, a gestão é a ponte entre o estado e os professores, compondo todos os objetivos gerais dentro da realidade de cada escola, assegurando que, dentro das possibilidades, todos os alunos da rede tenham acesso aos mesmos conteúdos ao mesmo tempo. 

É aqui que a Base Nacional Comum Curricular entra com força total. Estando acima dos Currículos Estaduais, Municipais e Particulares, o documento se apresenta como um compilado de competências que devem ser absorvidas pelas redes de ensino, atingindo os Projetos Políticos Pedagógicos e currículos das escolas, refletindo diretamente no planejamento anual escolar e nos planos de aula. Dessa forma, é preciso compreender que a BNCC não é o currículo ou o planejamento, e sim o ponto de partida para a elaboração do mesmo.

Entendendo as diretrizes básicas da BNCC

Em linhas gerais, a BNCC é um compilado de competências que passam a ser obrigatórias para o aluno. O alto número dessas diretrizes, ricamente detalhadas, faz com que seja complexo compreender o que, de fato, deve conter o planejamento escolar anual.

Uma maneira que nos auxilia a assimilar as informações da BNCC é encarar os conteúdos que devem ser apresentados aos alunos não no viés do “como se fazer”, mas, sim, do “por que fazer?”. Responder essa questão já é, a priori, compreender as competências exigidas. 

Por exemplo: na etapa da finalidade, uma escola define que o aluno deve aprender a respeitar as diferenças e, para isso, os professores trabalharão, sempre que possível, com debates em classe. A metodologia “debate” já é um plano de ação, um “como fazer”. Ao pensarmos “por que debate’” ou “por que respeitar diferenças”, poderíamos usar como resposta argumentos como “porque é necessário que o aluno aprenda a conviver em sociedades plurais, criando pessoas empáticas e cooperativas”. Essa resposta vai ao encontro justamente da 9ª competência geral exigida pela BNCC, “empatia e cooperação”.

Assim, basta olhar para as competências gerais da BNCC como uma finalidade, e, a partir delas, desenvolver um caminho para atingir tal objetivo. Para ajudar nesse processo, listamos abaixo todas as diretrizes presentes no documento:

  1. CONHECIMENTO – Capacidade de fazer o aluno se enxergar no centro do processo de aprendizado e construção de conhecimento.
  2. PENSAMENTO CIENTÍFICO, CRÍTICO E CRIATIVO – Capacidade de desenvolver análises críticas sobre o que é aprendido, estimulando o desenvolvimento de novas soluções.
  3. REPERTÓRIO CULTURAL – Acesso a produções culturais a fim de reconhecer a importância de valorizar as diversas manifestações artísticas e de incentivar a prática da produção artística-cultural.
  4. COMUNICAÇÃO – Capacidade de compreender, analisar e produzir nas inúmeras variantes das linguagens, assumindo as diversas formas de se comunicar.
  5. CULTURA DIGITAL – Reconhecer e dominar tecnologias digitais de informação e comunicação e a ética envolvida em suas práticas sociais.
  6. TRABALHO E PROJETO DE VIDA – Desenvolver a competência de valorizar e apropriar-se de situações que contribuem com as relações do aluno, considerando a liberdade, autonomia, responsabilidade e consciência crítica.
  7. ARGUMENTAÇÃO – Capacidade de desenvolver, negociar e defender ideias, decisões  e pontos de vistas, pautada em direitos humanos, consciência socioambiental, consumo responsável e ética.
  8. AUTOCONHECIMENTO E AUTOCUIDADO – Ser capaz de identificar as próprias habilidades, pontos fracos e fortes, sendo apto a manter a própria saúde emocional e física.
  9. EMPATIA E COOPERAÇÃO – Aprender a desenvolver a empatia e cooperação partindo da realidade da pluralidade social.
  10. RESPONSABILIDADE E CIDADANIA – Se enxergar como agente transformador na construção de uma sociedade sustentável, democrática e justa.

Na hora do plano de aula

Compreendida as 10 competências gerais a serem trabalhadas num planejamento anual de acordo com a BNCC, é hora de aplicá-las nos planos de ação, ou planos de aula, a última etapa. Aqui, o professor finalmente delimita, dentro das diretrizes, o que será feito na prática, no dia a dia em sala de aula. 

É importante frisar que  estas competências não estão limitadas a um único componente curricular. Repertório cultural, por exemplo, pode ser inserido tanto numa aula de Educação Física (a descoberta de jogos típicos de aldeias indígenas ou de outros países, por exemplo), quanto em aulas de Língua Portuguesa (regionalismos e sotaques), ou em Arte (novos conhecimentos a partir de pintores ou escultores).

Mais do que isso, também é possível a união de diversos componentes curriculares em projetos interdisciplinares a fim de atingir mais que uma competência geral da BNCC. Nós já fizemos um texto sobre isso  – para acessar, basta clicar aqui.

Independente da forma como será trabalhada, é importante considerar que a Base Nacional Comum Curricular não é uma amarra que limita o trabalho do professor, mas sim uma ferramenta que contribui para uma formação completa, humanista e rica, e que coloca os estudantes de todo o país em pé de igualdade. Bem trabalhada e com um bom planejamento anual, é um atalho para uma educação mais justa.

Referências:

https://novaescola.org.br/conteudo/431/planejamento-momento-de-repensar-a-escola

https://educacrianca.com.br/guias-para-montar-o-plano-anual-segundo-a-bncc/

http://www.sosprofessor.com.br/blog/planejamento-escolar-anual/

http://basenacionalcomum.mec.gov.br/