Repetir de ano: castigo ou oportunidade?

28 de novembro de 2019


O ano letivo está acabando, e, consequentemente, mais se aproxima o momento do conselho de classe e das últimas avaliações que definirão os alunos que serão aprovados e os que irão repetir de ano.

Se esta época do ano é tensa para estudantes do Ensino Médio, que se dedicam ao ENEM e a vestibulares, para todos dos outros anos a tensão se concentra na reprovação. Nenhum aluno, a priori, busca a repetência. Mas, engana-se quem pensa que esse dilema está só de um lado da sala de aula. 

De fato, nenhum professor gosta de ver um aluno seu reprovado. Toda a dedicação e esforço aplicado pelo mestre é refletido no sucesso de sua turma e, quando o estudante não atinge os níveis para avançar no ciclo, a sensação de que não se foi bom o suficiente é inevitável. 

Repetência desvirtuada

Não devemos, naturalmente, generalizar. Negar que a reprovação ainda é utilizada como forma de ameaça, castigo ou coação é, infelizmente, impossível. É extremamente tentador que o docente utilize da possibilidade de repetir de ano como forma de controlar possíveis indisciplinas em classe.

Essa é, obviamente, uma conduta a ser totalmente erradicada. Ainda que exista certa conexão entre pais, aluno e professor, a realidade familiar é algo que o docente jamais conseguirá adentrar por completo. Indisciplina à parte, tais ameaças podem resultar em traumas profundos na relação do aluno com os estudos e com os próprios pais.

Tal atitude por si só já mancha o conceito original da repetência, convertendo o fato em um suplício ao qual o aluno deverá enfrentar no ano seguinte. Isso, como é esperado, não é correto. É justamente ao repetir de ano que o estudante terá uma nova chance de desenvolver habilidades ainda não afloradas, podendo acompanhar com tranquilidade o ciclo escolar em que se encontra, independente de estar um ano “atrasado”.

Para conseguirmos encarar a repetência de uma forma menos negativa, é preciso que o tripé professor – aluno – família estejam perfeitamente alinhados e passem, juntos, a encararem a situação com outros olhos.

Para professores: por que eu reprovei meu aluno?

Ainda que não seja uma tarefa agradável reter o próprio aluno, o professor não pode cair na tentação de fazer vista grossa e aprová-lo sabendo que o mesmo não se encontra em condições de cursar o ano seguinte. 

Nessas ocasiões, cabe analisar muito bem as atividades feitas e refletir se é, de fato, realmente necessária a reprovação. Em caso afirmativo, é possível fazer uma autorreflexão, afinal de contas, repetir de ano não precisa ser um aprendizado apenas para o aluno, mas também para seu docente. Assim, questionamentos como “eu realmente fiz tudo o que estava a meu alcance?”, “Quais outras abordagens posso utilizar no próximo ano para assegurar que não ocorram mais reprovações?” são essenciais para que o professor possa sempre estar em constante evolução, aprimorando sua didática.

Por outro lado, o docente também deve considerar aspectos do próprio aluno. É preciso compreender se o estudante realmente tem condições de cursar novamente o mesmo ano e, principalmente, qual a melhor forma de abordar aluno e família para que seja possível criar e cultivar uma aliança tríplice para ajudar o aluno no ciclo que será reiniciado.

É exatamente neste ponto que o professor deve ter tato para informar a família, deixando-os confortáveis para compreender que repetir de ano jamais se configura como um castigo, mas como uma segunda chance – e, se todos merecem uma segunda chance, porque seria diferente na escola?

Para pais e alunos: por que meu filho precisou repetir de ano?

Na etapa em que o professor precisa dar a notícia da reprovação, é imprescindível que ele saiba muito bem o perfil dos pais e da família do aluno (percebido ao longo do ano por meio das reuniões de pais) para o fazer da forma mais particular e personalizada possível. 

Se antecipar às reações dos pais é importante para que eles percebam que você, enquanto professor, os compreende e compartilha de possíveis frustrações ou decepções. É preciso, entretanto, fazê-los enxergar o lado positivo. 

Assim, cabe o convite à autorreflexão, por parte dos pais, induzido pelo docente: porque meu filho foi reprovado? Ele teria um ensino de qualidade e condições de acompanhar os colegas de turma se fosse aprovado? Possíveis indisciplinas podem ter influenciado no aprendizado do meu filho? – esses e outros questionamentos são saudáveis e importantes para que os três pilares se unam e busquem um senso comum: como proceder para que a criança obtenha um desempenho melhor após a repetência.

Mudando paradigmas

Os pais compreenderam e o aluno iniciou novamente o ano. O que fazer? Independente do professor que o assumir, é extremamente importante se assegurar que nenhum aluno da turma o constranja ou discrimine por se encontrar na condição de reprovado. Isso pode trazer sérios problemas de autoexclusão por parte do aluno, e é justamente o caminho contrário a ser seguido. 

Após certificado de que toda a turma está em harmonia, é extremamente válido que o professor sugira atividades extraclasse que ajudem o aluno justamente no motivo pelo qual ele foi reprovado.

Por exemplo: se a criança foi reprovada simplesmente por não conseguir assimilar conteúdos de algumas disciplinas específicas, uma boa opção é incentivar que o aluno frequente turmas de recuperação intensiva antes ou depois do período da aula. Já se o aprendizado foi prejudicado por indisciplina, porque não organizar campeonatos de esporte entre as turmas durante o ano letivo? Além de ser um ótimo programa para as aulas de Educação Física, o aluno conseguirá “queimar” o máximo de energia durante os esportes, conseguindo se concentrar mais facilmente nos períodos de estudo teórico. 

Todos esses incentivos, naturalmente, devem ser tomados em parceria e com a ciência e apoio dos pais. É imprescindível que o professor explique os métodos por trás de cada ação sugerida e que frise a importância delas. Só com professores e pais unidos é que o aluno conseguirá ter o apoio necessário para encarar essa segunda oportunidade de aprendizado de forma leve, sem se sentir diminuído, menosprezado ou incapaz.

Fonte:

https://tutores.com.br/blog/repetir-de-ano-refazer-ou-fazer-diferente-quando-repetir-de-ano-pode-ser-um-ganho/