Reduza a inadimplência escolar sem afetar os pais

17 de dezembro de 2019


A economia brasileira passou, nos últimos anos, por vários altos e baixos. Em 2019, estagnou sem fôlego, num ritmo ainda lento. Segundo o Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a economia no país sofreu choques que impediram um crescimento significativo. Isso impacta diretamente no dia a dia da família brasileira que, em última instância, começa a cortar gastos ou se atrapalhar com dívidas, resultando, dentre várias outras consequências, na inadimplência escolar.

O temido efeito cascata

Tudo o que acaba impactando negativamente a economia doméstica pode abranger nos produtos e serviços que a mesma consome. As escolas particulares, então, acabam ficando na “saia justa”: por um lado, não podem controlar as finanças das famílias, garantindo que as mensalidades estarão em dia. Por outro, estão diretamente expostas às flutuações da renda dos familiares dos alunos, principalmente quando consideramos os reajustes anuais.

O principal ponto negativo, entretanto, é o efeito cascata propiciado pela inadimplência escolar. Ou seja: com o atraso de parcelas, a receita escolar pode sofrer desfalques significativos, o que dificulta a manutenção do espaço e a oferta de inovações e diferenciais, o que é essencial para atrair os pais. Sem inovação e modernização, não há procura, sem procura, perde-se ainda mais alunos.

Mais do que mera especulação, gestores e diretores de escolas particulares estão cada vez mais atentos a esses números. Só no ano passado, segundo a Análise de Perfil do Inadimplente realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), 16% dos brasileiros deixaram de pagar as mensalidades das escolas. Esse movimento preocupante foi antevisto por um dado divulgado ainda em 2017 pelo El País, que contabilizava um índice de 25% de matriculados em escolas públicas provenientes das particulares.

Inadimplência escolar: o que não fazer?

Quando casos de inadimplência começam a surgir, é comum a gestão se preocupar e, em certos casos, até nutrir certa antipatia pela família devedora. Esse, naturalmente, não é o caminho mais adequado. 

Antes mesmo de traçar um plano para lidar com a situação, é preciso ter em mente o que não fazer numa situação dessas.

Então, em primeiro lugar, é necessário lembrar que, ainda que inadimplente, diversas leis protegem a integridade do estudo dos alunos. Assim, ainda que credora, a escola não pode cancelar a matrícula no meio do ano, muito menos impedir a transferência do aluno ou impedi-lo de assistir às aulas. 

A legislação cabível condena quaisquer tipos de prejuízos aos estudos dos alunos durante todo o ano letivo. Assim, caso as negociações falhem, a escola pode vetar a matrícula somente no início do próximo ano letivo.

Como lidar com a inadimplência escolar?

A inadimplência escolar é um problema e precisa ser encarado com muita firmeza e estratégia. É preciso realizar um levantamento geral do número de devedores para, então, se debruçar sobre os impactos totais e, ao mesmo tempo, em cada caso específico, a fim de oferecer as melhores opções de renegociação.

Mas, como fazer isso? A Editora do Brasil sabe que enfrentar essa situação pode ser delicada e até mesmo assustar. É por isso que separamos um breve passo a passo com dicas para se organizar financeiramente sem afastar os pais.

1. Mensure o impacto da inadimplência

Ao perceber que existem pais em situação de devedores, o primeiro passo é calcular o impacto da inadimplência na escola. Ao fazer isso, significa que você deve encontrar taxas que conversem diretamente com a receita da escola, e não simplesmente calcular o número de casos. 

Para isso, você precisará encontrar duas métricas básicas:

a) Índice de inadimplência

Essa métrica mensura a perda real da escola. Trata-se, literalmente, de valores, e não necessariamente da quantidade de pais devedores. Para encontrar esse valor, é preciso usar como base a receita total esperada numa situação onde todas as mensalidades estejam 100% em dias e calcular o percentual de perda de receita considerando o valor total em atraso. Assim, você tem uma média de quanto está perdendo todo o mês. 

b) Custo por aluno

A segunda métrica importante é o custo por aluno. Para isso, você precisa somar todo o custo operacional da escola e dividi-lo pelo número de alunos. Esse valor e essa percentagem são válidos para fins de comparação com o quanto você gasta, e o quanto essa perda impacta nas contas a pagar.

Além de auxiliar na mensuração do quanto a escola está perdendo, encontrar esses valores auxilia na hora de calcular descontos para pais inadimplentes ou o quanto será necessário de reajuste anual no próximo ano escolar.

2. Busque o diálogo

A segunda dica parece simples, mas é a alma do negócio.

A escola com pais inadimplentes pode, de fato, acessar as vias judiciais para receber o pagamento em atraso. Ainda assim, é sempre recomendável que a gestão escolar convide a família para uma conversa sincera e amistosa sobre as melhores formas de se encontrar uma solução. 

Com os cálculos já citados, é possível repensar em descontos sobre o valor devido e outras formas de se entrar em consenso sem que, para isso, seja necessário envolver a justiça.

3. Torne o pagamento maleável

Essa dica é válida tanto para renegociações de dívidas quanto para os pais que já pagam as mensalidades em dia.

Acontece que muitos casos de inadimplência acontecem, também, por esquecimento ou falta de tempo. Oferecer métodos como débito automático e criar lembretes (via WhatsApp ou outros aplicativos) do vencimento das mensalidades pode ser uma ótima estratégia, tanto para quem está em situação de crise, quanto para quem tem uma vida corrida e pode acabar esquecendo de fazer os pagamentos.

4. Considere o seguro escolar

Depois de driblar com sucesso e renegociar as dívidas dos pais inadimplentes, é altamente recomendável a adoção de um seguro escolar. Isso porque é a melhor maneira dos pais e escolas se precaver em caso de perda de emprego e outros imprevistos na economia doméstica. A oferta do seguro pode ser realizada no ato da matrícula, no começo do ano, e existem planos no mercado que cobrem até seis meses de mensalidades. 

Seguindo essas dicas, você terá grandes chances de vencer esse momento difícil para a gestão escolar. Com muita estratégia e jogo de cintura, é possível colocar novamente as mensalidades no azul e se manter firme no mercado!

FONTES:

https://escolasexponenciais.com.br/tendencias-e-metricas/inadimplencia-escolar-entenda-e-descubra-como-reduzi-la/

https://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/23/politica/1498232692_929257.html

https://www.spcbrasil.org.br/wpimprensa/wp-content/uploads/2018/08/analise_perfil_inadimplente_2018.pdf