Qual o papel do diretor na gestão escolar democrática?

12 de novembro de 2019


É uma máxima da educação afirmar que o ensino só é possível  de maneira completa e eficiente quando toda a comunidade escolar participa e se engaja – e, por “comunidade escolar”, devemos compreender tanto os professores, gestão, coordenação, funcionários e alunos, quanto a comunidade na qual a escola está inserida, extensão dos próprios alunos. Contraditoriamente, o ambiente educacional ainda é, em grande escala, hierárquico, com o diretor da instituição no topo de uma cadeia vertical. A gestão escolar democrática visa justamente a horizontalização deste sistema. 

A descentralização da gestão escolar

Inicialmente pensado para escolas públicas e cada vez mais adotado também pelas instituições privadas, o conceito de gestão escolar democrática vai além da descentralização do “poder” do diretor da escola. Mais que isso, adotar tal sistema nas escolas contribui para o real envolvimento de todos os atores que estão inseridos no contexto da educação local – do diretor ao faxineiro, do professor à família do aluno -, alcançando, assim, um engajamento real e frutífero. 

Portanto, todas as partes devem ter voz ativa nas decisões escolares, dividindo responsabilidades e contribuindo com diversos pontos de vista para alcançarem soluções comuns para os desafios que surgem no dia a dia, como a verdadeira democracia deve ser. 

Além disso, é sabido que a escola é, para o aluno, mais do que um ambiente de formação acadêmica, mas também social. Muitos dos valores da sociedade são trabalhados dentro do microambiente escolar – e nada mais válido do que fazê-los sentir a democracia na pele desde cedo, possibilitando que se vejam como parte ativa nas decisões escolares.

Esse movimento exclui posicionamentos passivos de todos os elementos sensíveis às escolas – é justo para os pais, que podem ter certeza que tudo corre bem; para os jovens, que serão ouvidos e considerados, evitando a sensação de serem “deixados de lado”, apenas “seguindo ordens”; e para o diretor da escola e os professores, que poderão trabalhar com um público muito mais engajado e interessado em melhorias. 

Organize-se: passos para aplicar a gestão democrática

Todo o processo de horizontalização de gestão deve ter o pontapé inicial dado pelo diretor da escola. É a partir dele que as tarefas e responsabilidades são delegadas para que todos participem do processo de melhorias para a instituição de ensino. 

É preciso entender, entretanto, que quanto mais pessoas envolvidas nas decisões, mais burocrático pode se tornar o momento  de botar a mão na massa. Isso significa que se todo o processo não for muito bem pensado e organizado, ações simples podem demandar um tempo maior para serem realizadas.

Isso, por outro lado, não pode representar um desafio extenuante ou um motivo de desânimo na hora de adotar a gestão democrática. Bastam alguns passos simples para  que tudo corra nos melhores termos. Para isso, confira abaixo os principais pontos de atenção para não se perder: 

1. Entenda as mudanças

Na etapa embrionária da gestão democrática, é preciso entender profundamente as mudanças que a nova forma de trabalho implicará. É normal nos acostumarmos ao estilo vertical e hierárquico de comando numa escola, e todo esse ponto de vista deve ser alterado. Esse posicionamento não deve ser tomado apenas pelo diretor da escola, mas por todos os envolvidos: da mesma forma com que é difícil para um gestor que nunca delegou tarefas dividir suas responsabilidades, também é possível encontrar professores, por exemplo, que preferem estar o mais longe possível das decisões administrativas da escola.

Por isso, para que o processo da gestão democrática dê certo, é imprescindível que o diretor da escola dedique uma reunião com os professores e funcionários para explicar o novo modelo de gestão, bem como para ouvi-los e, assim, criar equipes que irão lidar com assuntos de interesse dos participantes. O mesmo bate-papo é válido para o grêmio estudantil e para os pais membros do conselho escolar (principalmente em escolas públicas). Assim, também é possível delimitar as responsabilidades que cada ator terá dentro do processo de horizontalização.

2. Grupos, encontros e reuniões

Todos juntos em sinergia, é hora de colocar as ações em práticas! Mas, como tornar o processo mais produtivo? Justamente para evitar perda de tempo com decisões simples – que podem se alongar até que todos os membros cheguem a um ponto em comum -, é válido que o diretor da escola organize encontros com equipes específicas, semanal ou quinzenalmente, para debater os principais pontos

Assuntos que envolvam o dia a dia da escola, como, por exemplo, o uso indevido de celulares em aulas ou disciplina dos alunos, podem ser debatidos entre o grêmio e professores representantes a cada 15 dias. Já assuntos que dizem respeito à infraestrutura, podem ser conversados semanalmente com os representantes dos pais e a gestão escolar – e assim por diante.

Ainda visando a otimização do tempo, é recomendável que se estabeleça um limite máximo para que cada processo seja executado, evitando que assuntos simples demandem mais tempo do que o necessário.

3. Engajamento na medida certa

A propaganda é a alma do negócio, então é preciso mostrar os resultados para que toda a comunidade escolar se engaje a partir do conhecimento dos resultados positivos da gestão democrática. Mais do que isso, constatar os frutos de uma gestão comunitária faz com que todos os envolvidos passem a se sentir pertencentes a algo, protagonistas numa ação positiva – o que gera interesse. 

A única ressalva é o nível de engajamento. Ainda que a gestão democrática seja altamente recomendada, existem assuntos específicos e preestabelecidos que fogem da alçada desse tipo de gestão. É o caso, principalmente em escolas públicas, de projetos educacionais indicados pelo governo que devem ser necessariamente aplicados em sala de aula ou outras decisões administrativas que seguem ordem do Ministério ou das Secretarias da Educação.

Nesses casos, é preciso que todos compreendam que as ações serão realizadas por tão somente os funcionários cabíveis, e que tal atitude em nada afeta a gestão democrática. 

Todos unidos e cientes de suas responsabilidades, o modelo promete aquecer e estreitar os laços entre escola e comunidade, conferindo não apenas uma educação acadêmica de maior qualidade para os alunos, mas os provendo também de conceitos cidadãos, que refletirão positivamente tanto na escola quanto na sociedade em anos vindouros. 

Fonte:

https://escolasexponenciais.com.br/tendencias-e-metricas/gestao-escolar-democratica/

http://escoladainteligencia.com.br/gestao-escolar-democratica-o-que-e-e-como-aplicar/