O que Greta Thunberg pode ensinar sobre educação ambiental nas escolas?

10 de fevereiro de 2020


A cada 12 meses, a revista americana Time elege uma personalidade que impactou o mundo de alguma forma para ser a Pessoa do Ano. Desde 1927, nomes como Winston Churchill, Richard Nixon, George H. W. Bush e Barack Obama ilustraram a capa da publicação que é uma das mais renomadas dos Estados Unidos. Em dezembro do ano passado, entretanto, a revista surpreendeu muita gente: graças ao ativismo ambiental e suas consequências, Greta Thunberg, na época com apenas 16 anos, foi eleita a personalidade de 2019.

A escolha de Greta como Pessoa do Ano pela Time não é aleatória ou sem propósito. Mesmo com pouca idade, a jovem ganhou relevância no cenário internacional como uma das principais ativistas pelo meio ambiente, enviando uma mensagem objetiva para as gerações mais velhas: como será o planeta que deixaremos para as crianças? Não é de se surpreender, então, que ela tenha tudo a ver com educação ambiental nas escolas. 

Conheça um pouco mais de Greta Thunberg e o que ela nos ensina sobre meio ambiente, tanto para professores quanto para estudantes.

Ativista desde cedo

“Percebi que ninguém estava fazendo nada para impedir que isso aconteça, então eu precisava fazer alguma coisa.” É com esse pensamento que Greta decidiu usar sua voz para conscientizar o mundo sobre a importância da preservação do meio ambiente. A semente, entretanto, foi plantada muito antes.

Em entrevista às mídias internacionais, a jovem ativista relatou que ouviu pela primeira vez sobre a necessidade da conscientização ambiental aos oito anos. A ideia germinou até os 11, época em que enfrentou uma séria depressão. “Parei de ir à escola, parei de falar, porque estava muito triste. Aquilo me deixou muito preocupada. Teve muito a ver com a crise climática e ecológica.”, relembrou Greta à BBC Radio 4. “Achava que havia algo muito errado e que nada estava sendo feito, que nada fazia sentido.” Ao passo que encontrava novamente sua voz, ela a foi direcionando para a luta pela preservação do planeta.

De jovem para jovem

À primeira vista, soa estranho ouvir uma pessoa tão jovem lançando pensamentos tão afiados aos mais velhos. Mas, ao colocarmos uma lupa sobre o tema, é possível compreender o quão pertinente é a ideia de uma ativista ambiental adolescente: nenhuma outra geração está tão fadada a sentir os efeitos das mudanças climáticas quanto a geração Z. É com essa noção que Greta conclui, nas diversas palestras que faz ao redor do mundo, que o destino de seus companheiros de idade é incerto: “No ano de 2078, comemorarei meus 75 anos. Se eu tiver filhos, eles, talvez, passem esse dia comigo e, talvez, me perguntem sobre vocês, sobre por que não fizeram nada enquanto ainda havia tempo para agir. Vocês dizem que amam os seus filhos, no entanto, roubam o futuro deles”.

O futuro está no fio da navalha por conta das oscilações da temperatura média da Terra, do desflorestamento em massa e da emissão de gases tóxicos à atmosfera. A ascensão pública de Greta representa um novo pensamento jovem que está disposto a lutar contra todos esses efeitos adversos.

Tal discernimento aliado à popularidade de Greta proporcionou a criação do Fridays for Future: uma ação na qual ela e diversos colegas de classe e até de outras escolas faltam às aulas para debater sobre as mudanças climáticas à frente do parlamento de Estocolmo, na Suécia, país natal da jovem. 

A ação já se desdobrou em diversas greves estudantis no país europeu, encabeçados pela jovem, em prol da educação ambiental nas escolas.

Inspiração para educação ambiental nas escolas

Enquanto professores, é impossível negar o fato de que temos contato com os jovens que serão protagonistas do mundo daqui a alguns anos. A formação acadêmica, inclusive segundo a BNCC, é atrelada, não à toa, com o desenvolvimento pessoal do jovem como participante ativo da sociedade – é aqui que entram competências socioemocionais e, naturalmente, a educação ambiental nas escolas.

Uma das maiores dificuldades que os professores enfrentam neste momento de conscientização é fazer o estudante perceber que ele não está sozinho e que, apesar de sua atitude em prol do meio ambiente ser micro, se cada um fizer sua parte, teremos resultados macro – em suma: todos fazem a diferença.

A metodologia pela qual o professor irá optar para atingir o tema da educação ambiental nas escolas é altamente particular – isso depende dos hábitos do profissional, do perfil da turma, das propostas curriculares organizadas pela gestão e diversos outros fatores. Debates, documentários e muitas outras atividades são bem-vindas e essenciais – mas, por que não apresentar à turma o  exemplo vivo de Greta? Motivos para isso não faltam!

Inspiração

Primeiramente, podemos pensar na sensação de protagonismo do estudante. Ao longo dos anos escolares, é muito comum que a turma relacione conhecimento à pessoas mais velhas – seja o professor, os teóricos, autores ou afins. Ter contato com uma pessoa tão jovem e importante pode os fazer entender que ativismo não depende da idade: todos podem fazer diferença e mudar a realidade em que vivem para servir de exemplo para que todos também melhorem. Longe de usar isso como forma de intimidação, Greta, na sala de aula, nos faz pensar “se ela, aos 16 anos, possui tal iniciativa, quais ações os jovens da minha escola também são capazes de desenvolver?”

O professor também pode usar a vivência de Greta como forma de incentivar ações práticas – mais do que pensar, agir. A exemplo do Fridays for Future, o que cada escola poderia desenvolver em prol do meio ambiente?

Em turmas de Ensino Médio, o debate pode ser mais profundo. No mundo essencialmente capitalista dos dias de hoje, não é de se surpreender que as críticas ao consumo em massa não foram bem-vindas por muitos políticos, presidentes e autoridades ao redor do globo. Aprofundar a crítica sobre essa represália suscita conversas sobre ética e sociologia extremamente ricas: se as críticas partem de pessoas que provavelmente não vivem tempo o suficiente para acompanhar o apogeu das mudanças climáticas, porque ainda existem tais críticas? Qual o papel do adolescente na mudança climática? Como uma atitude individual pode se propagar a ponto de se tornar um movimento mundial?

A indicação de Greta Thunberg como estudo de caso entre alunos e professores se mostra enormemente produtiva e esperançosa: a intenção não deve ser tornar todos os nossos estudantes em Gretas, mas mostrar como é importante partilhar da mesma semente que germinou na ativista, unindo ideologias e ações em prol de um mundo mais saudável e justo para quem realmente estará nele.

Fontes:

https://www.iberdrola.com/compromisso-social/greta-thunberg-compromisso-ambiental

https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/04/23/greta-thunberg-a-adolescente-sueca-que-esta-sacudindo-a-luta-ambiental.ghtml

https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/meio-ambiente/greta-thunberg-uma-jovem-e-tanto-na-educacao-ambiental/1314

https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2019/12/11/interna_internacional,1107611/ativista-ambiental-greta-thunberg-e-personalidade-do-ano-da-revista-ti.shtml