De Anália Franco a Clarice Lispector: grandes mulheres da história da literatura brasileira

8 de março de 2020


Em “Aquilo que ninguém vê”, Andrea Viviana Taubman e Anna Claudia Ramos, assim como grandes mulheres consideradas à frente de seu tempo, encontraram na literatura uma maneira de evocar o poder de personagens femininos, corrigindo uma realidade historicamente injustiçada. A obra, publicada pela Editora do Brasil, conta a história de Anália Franco e sua luta social por igualdade e educação quando o país ainda vivia o regime de escravidão.

Em uma narrativa impactante e, ao mesmo tempo, delicada, Andrea e Anna abordam a vida real de Anália Franco por meio dos ficcionais André e Benjamin. Indicada para estudantes a partir do 7º ano, o livro relata traumas e sensibilidades das mulheres da família de André, desde Sangue, sua tataravó que veio ao Brasil escravizada, até Amélia, que encontra em Anália Franco uma mãe adotiva após se ver sozinha no fim da escravidão.

Aquilo que ninguém vê é um ode à Anália Franco e, por extensão, à todas as mulheres que, assim como Anália, lutam diariamente por uma educação de qualidade para todos, pelo fim da segregação social e do machismo; de mulheres que sabem que o pensamento crítico é o caminho para a justiça social.

Um erro histórico 

E, se o assunto for pensamento crítico, as autoras brasileiras levam nota 10. Ainda que nem sempre totalmente reconhecidas como merecem devido a erros e falhas históricas, cabe a nós, no auge da integralidade da comunicação, corrigir essa falha e exaltar os grandes nomes femininos da história da literatura brasileira.

Você sabia, por exemplo, que Anália Franco, além de lutar por causas sociais, como o fim da escravidão e educação de qualidade para todas e todos, também foi escritora? Ou que a primeira romancista brasileira, Maria Firmina dos Reis, negra e nordestina, implementou o sistema de escola mista (com meninos e meninas na mesma classe)?

Para trazer essas e outras mulheres fortes da literatura nacional, a Editora do Brasil organizou neste Dia Internacional da Mulher uma lista com nove autoras para você relembrar, conhecer e, mais importante, propagar. Confira:

9 grandes mulheres da história da literatura brasileira

Anália Franco (1853-1919)

Ao viver numa época onde a cor da pele definia quem era ou não cidadão, os ideais de Anália Franco foram considerados controversos e escandalosos. Em seus três romances (“A Égide Materna“, “A Filha do Artista” e “A Filha Adotiva“) e nas inúmeras poesias e peças teatrais, a autora colocou em pauta a luta por igualdade, a importância da educação para todos, inclusive para mulheres, e o fim da escravidão. Além da obra literária, Anália Franco também foi filantropa, professora e ativista, fundou mais de 70 escolas, além de asilos, lares para crianças órfãs, albergues, orquestras e grupos de teatros.

Cecília Meireles (1901-1964)

Uma das maiores poetas brasileiras de todos os tempos, Cecília Meireles também foi jornalista e ativista por causas educacionais. Essa vertente a fez direcionar a maioria da sua obra justamente para crianças, contribuindo para a causa leitora. Enquanto jornalista, usou a mídia impressa para divulgar diversos artigos sobre a educação brasileira de sua época, além de fundar, na década de 1930, a primeira biblioteca infantil do país. Foi, também, uma das primeiras mulheres a ganhar o Prêmio Machado de Assis pela Academia Brasileira de Letras.

Maria Firmina dos Reis (1822-1917)

Maria Firmina dos Reis, nordestina do Maranhão, negra e professora, ao publicar “Úrsula” em 1859, consagrou-se como a primeira romancista brasileira. A trama foi considerada, também, o primeiro romance feminista e abolicionista, inaugurando a literatura afro-brasileira, o que chamou certa atenção numa época em que as mulheres ainda não possuíam os mesmos direitos que hoje e que a escravidão ainda era o estado vigente. Em 1880, criou a primeira escola mista, que mesclava meninos e meninas na mesma classe, ato extremamente ousado até então. Figura ativa na imprensa maranhense, também foi jornalista, publicando poemas, crônicas, contos e artigos nos jornais da região em que viveu.

Júlia Lopes de Almeida (1862-1934)

O nome da carioca é mais um que aparecem quando falamos de luta contra a escravidão. Grande parte da obra de Júlia de Almeida, como “Ânsia eterna”, “A intrusa” e “O funil do diabo” foi voltada para a igualdade social e de gênero. Contribuiu ativamente para o Gazeta de Campinas e foi presidenta da Legião da Mulher Brasileira, grupo feminino voltado para a discussão dos direitos da mulher. Participou de modo intenso das reuniões de fundação da Academia Brasileira de Letras, mas, foi ignorada pelos primeiros integrantes por ser mulher. 

Rachel de Queiroz (1910-2003)

Conquistando seu merecido espaço em meio ao Romance de 1930 ao lado de Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Jorge Amado, Rachel de Queiroz apresentou uma outra face do Brasil para o próprio brasileiro por meio de uma obra extensa que envolve poesia, contos, romances e crônicas – estas últimas também eram publicadas nos jornais do país. Depois que Júlia Lopes de Almeida foi negada na Academia Brasileira de Letras, mesmo participando de sua fundação (em 1879), Rachel de Queiroz se tornou a primeira mulher a integrar o grupo. Além disso, também foi a primeira autora a vencer o Prêmio Camões.

Nísia Floresta (1810-1885)

A brevidade da obra de Nísia Floresta é compensada pelo peso e impacto de sua publicação. “Direitos das mulheres e injustiça dos homens” foi sua única obra publicada, em 1832, em forma de manifesto, o que resultou em rebuliço e escândalo social. Também foi professora, mantendo uma participação ativa em jornais da época, usando a imprensa para criticar os limites impostos às mulheres. Manteve contato com Augusto Comte, filósofo positivista, e Alexandre Dumas, escritor francês. 

Hilda Hilst (1930-2004)

Hilda é considerada por muitos uma das maiores escritoras de língua portuguesa do século XX. O título não é à toa: alcançou renome nos três principais gêneros literários, o lírico, o narrativo e o dramatúrgico. Sua obra ronda os desejos humanos, tudo aquilo que é visceral, sincero e, por isso mesmo, oculto. O amor ao sexo, suas personagens são livres ou buscam a liberdade de pensar e ser, rompendo paradigmas e os dogmas da sociedade.

Clarice Lispector (1920-1977)

Clarice aparece nessa lista como, talvez,  uma das mais conhecidas do público brasileiro. Apesar de ucraniana de nascença, naturalizou-se pernambucana ao chegar ao Brasil ainda muito jovem, decorrente das ameaças à Europa causadas pela Primeira Guerra Mundial. É uma das autoras mais lidas no Brasil e reconhecidas internacionalmente. Possui uma longa lista de romances, contos e crônicas publicadas, de narrativa introspectiva e reflexiva, abordando temas sociais e psicológicos.

Gilka Machado (1893-1980)

De família de artistas, Gilka Machado se consolidou como grande poeta brasileira, publicando diversas coletâneas. Escreve desde jovem, tendo apenas 22 anos à época da conclusão de seu primeiro livro, “Cristais partidos”. Sua obra, quando trabalhada em sala de aula, deve ser preferencialmente usada no Ensino Médio devido ao caráter erótico em muitos poemas. Recebeu, em 1979, o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras.

Apresentar, trabalhar e propagar os nomes femininos em sala de aula é essencial tanto para expandir o conhecimento e o pensamento crítico do aluno, quanto como forma de serviço social e correção histórica, dando os devidos créditos às autoras que revolucionaram a história da literatura brasileira. É importante, então, que, enquanto professores, busquemos mais do que essas nove autoras – a literatura brasileira é um terreno onde grandes mulheres, ainda que por vezes injustiçadas, galgaram seu espaço em busca de uma sociedade mais igualitária e justa. É nosso papel nos atentarmos a elas.

 

Fontes:

https://homoliteratus.com/revisado-7-autoras-esquecidas-da-literatura-brasileira/

http://www.blogletras.com/2009/03/quinze-mulheres-da-literatura-brasileira.html

https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/literatura/alguns-destaques-femininos-na-literatura-brasileira.htm

PNLD 2020