Entrevista com Cassiana Pizaia – Coautora de “Layla, a menina síria”

24 de julho de 2020


Entrevista com Cassiana Pizaia – Coautora da obra “Layla, a menina síria”, aprovada no PNLD Literário 2020

 

A narrativa do livro conta os percalços de uma garota refugiada, história que foi até adaptada como enredo de novela no Brasil. A vida real mostra que, além do ensino geopolítico, a história de Layla envereda também pelas relações sociais e culturais. Em sala de aula, como aproveitar ao máximo tudo o que a trama nos oferece?

— A história de Layla tem diversas nuances que podem unir conhecimentos de disciplinas diferentes e gerar reflexões, discussões e práticas.

A narrativa de ficção foi inspirada em relatos e ambientada em cenários e contextos reais, que incluem a história, a geografia, a religião, os costumes e a cultura em uma região complexa como é o Oriente Médio, ainda pouco compreendida pelos brasileiros. Essas informações surgem como pano de fundo de modo natural, inseridas no cotidiano. Como diz a personagem: “todos esses povos e histórias estavam nas calçadas onde a gente corria, no tempero da comida, em tudo o que a gente via quando ia ao mercado. E, quando é assim, parece que as pessoas se misturam com as histórias e nem percebem mais que estão lá”. Esse conjunto de tradições, cores, sabores e idiomas apresentado no livro abre um grande leque de possibilidades de pesquisa e trabalhos dentro e fora da sala de aula.

O livro, de modo acessível para a faixa etária, também aproxima o leitor de algumas questões importantes da atualidade que nos chegam muitas vezes de maneira confusa ou fragmentada. Alguns exemplos: os múltiplos interesses que levam a uma guerra como a da Síria; a convivência entre diferentes religiões e culturas; as fronteiras fechadas para milhares de refugiados; a contribuição que os imigrantes atuais podem trazer para o nosso país, como fizeram nossos antepassados.

Acompanhar a guerra e o caminho dos refugiados pelos olhos de uma menina, em uma narrativa envolvente e emocionante, torna mais próximo e compreensível um dos maiores dramas do nosso tempo. De acordo com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), em 2019 tivemos o maior número de pessoas em deslocamento já registrado pela organização. E o problema não está distante de nós. Conflitos ou catástrofes humanitárias têm relação com questões além das fronteiras regionais e causam impacto ao redor do mundo, inclusive em nossas cidades, bairros e escolas. O aprendizado e a empatia estimulados pela leitura e pelos trabalhos a partir de Layla podem ajudar a prevenir e mudar comportamentos de preconceito, xenofobia, estimulando a cooperação e o apoio entre as crianças e adolescentes.

Os conflitos armados são fonte inesgotável de ensinamentos sobre o que não deve ser feito para a história se repetir. No caso de Layla, apesar de dor e sofrimento, existem bons exemplos a serem ensinados, como o do altruísmo e o da acolhida aos refugiados. Quais são seus destaques nesse sentido do bom aprendizado?

— Acredito que Layla seja principalmente uma história sobre coragem, esperança e superação. Sobre o poder da amizade, do amor, das relações familiares, do afeto, da compreensão e do acolhimento diante dos desafios que todos nós enfrentamos na vida. É também uma reflexão sobre nossos valores mais importantes, como o respeito à vida, o reconhecimento da diversidade da riqueza cultural e humana e a capacidade que temos de apoiar uns aos outros como seres humanos. A solidariedade, a cooperação e o respeito que tanto buscamos podem ser desdobramentos naturais da reflexão e do entendimento. Um contraponto poderoso à guerra, à violência, ao desrespeito e à indiferença, que ameaçam a todos nós.

 

Quais são hoje as maiores iniciativas para o auxílio a crianças e adolescentes refugiados no Brasil? Como ter acesso às diferentes realidades e sentir na prática o que é necessário para esse auxílio?

— Várias organizações não governamentais prestam assistência direta aos migrantes e refugiados. Dois bons exemplos são as Pastorais do Migrante, que atuam em várias cidades do país, e o Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio da Cáritas brasileira, vinculado à CNBB. Existem também Centros de Atendimento mantidos pelo poder público em muitas localidades, e alguns deles têm parceria com instituições da sociedade civil. E boas iniciativas locais, algumas delas ligadas à ACNUR. Em São Paulo, temos o Instituto ADUS de Reintegração do Refugiado e a IKMR, que trabalha especificamente com crianças. É importante também identificar e apoiar crianças e adolescentes refugiados que estão próximos de nós. Muitas vezes, eles estudam em nossa escola ou são nossos vizinhos. Pequenos gestos, que estão ao alcance de todos, como podemos ver na história de Layla, podem fazer muita diferença.

Confira mais informações e navegue pela obra em: https://pnld2020.com.br/layla-a-menina-siria