A qualidade da educação brasileira segundo a pesquisa TALIS

10 de março de 2020


Em 2018, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) realizou a terceira edição da Teaching and Learning International Survey, a Talis. No Brasil, a pesquisa foi aplicada por meio de formulários eletrônicos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), e avaliou, entre outros pontos, a qualidade da educação brasileira. Os resultados foram divididos em duas etapas, sendo a primeira no fim de 2019 e a segunda prevista para o primeiro semestre de 2020.

A pesquisa de 2018 procurou mensurar a qualidade da educação brasileira através da percepção de diretores e professores, levando em consideração aspectos como a valorização do profissional, suporte escolar, condições de aula, o trabalho de diversidade cultural nos currículos nacionais, entre outros.

A terceira edição destinou-se a escolas do Ensino Fundamental e Médio, usando amostras do Censo Escolar. Para o Inep, os resultados são importantes para auxiliar o país na revisão e criação de políticas que agreguem valor para o professor, contribuindo, assim, para a qualidade da educação brasileira.

O que os resultados preliminares dizem sobre a qualidade da educação brasileira?

Para mensurar a qualidade da educação brasileira, a pesquisa Talis abordou assuntos que vão desde as condições de ensino, tanto de infraestrutura quanto de viabilidade das aulas, o que influencia diretamente a busca por um ensino de qualidade. Ações que abordem a diversidade cultural e o combate ao bullying também foram temas recorrentes nos questionários da OCDE, cujas análises já são apresentadas nos resultados preliminares.

Incidência do bullying nas escolas

Quando o estudante não se sente motivado na escola, dificilmente terá um bom rendimento, o que pode resultar desde reprovações até casos de abandono ou evasão escolar. Tal desmotivação se dá de inúmeras formas, sendo uma delas o bullying.

Além de consequências no aprendizado escolar, casos de bullying podem evoluir para situações mais graves, como a depressão entre jovens e a autoexclusão, tanto na sociedade quanto na escola.

Apesar da seriedade, a incidência de bullying nas escolas apontadas pelos próprios professores é preocupante. Segundo os resultados da Talis, 28% dos professores e outros profissionais da educação dos anos finais do Ensino Fundamental relataram já terem presenciado ações de intimidação entre estudantes dentro das instituições pesquisadas. 

Esse resultado representa uma queda em relação à edição de 2013, que foi de 35%. Ainda assim, segue à frente da média da América Latina (14%) e de toda a Talis (13%).

A situação não muda quando pensamos no Ensino Médio, onde 18% dos professores assumiram existir bullying nas escolas. O índice também representa uma queda em relação à pesquisa anterior, época em que bateu os 23%, mas ainda segue superior a países como a Eslovênia (6%), Emirados Árabes (5%) e Turquia (5%).

O uso do tempo

Questionados sobre a otimização de tempo dentro de sala de aula, a pesquisa identificou que, em média,  apenas 67% de toda a aula é dedicada aos conteúdos curriculares. A média internacional é de um aproveitamento de quase 80%.

Isso é reflexo da superlotação das turmas (que, por muitas vezes, podem chegar a 45 estudantes cada), e torna-se difícil manter a atenção de todos ao mesmo tempo: 20% do período de aula (cerca de 9 minutos) é usado apenas para concluir a chamada, pedir a atenção dos jovens, bem como outras interrupções.

Ainda que possa parecer um valor pífio, Karine Tremblay, principal autora da Talis de 2018, em entrevista à BBC Brasil, afirma que “a perda de apenas alguns minutos por dia, somados, acaba totalizando vários dias no ano escolar, por isso o tempo gasto no aprendizado é tão importante: uma perda de apenas 5% no tempo gasto ensinando corresponde a 12 dias e meio no ano, por exemplo.”

A desmotivação do professor

O índice de motivação dos professores é, talvez, um dos maiores destaques da primeira etapa de divulgação de resultados da Talis. A média mundial de satisfação com a profissão é de 32%, contra 23% para a América Latina. Já o Brasil apresenta um diagnóstico mais preocupante: apenas 10% dos docentes do país se sentem realmente valorizados e satisfeitos com a qualidade da educação brasileira.

Diversas situações contribuem para a alta insatisfação dos professores e gestores brasileiros. A falta de internet de qualidade, por exemplo, foi apontada por 64% dos diretores pesquisados como um dos principais desafios na hora de gerir uma escola, seguido pela ausência de professores capacitados para lecionar matérias específicas (60%).

Razões para pensar diferente

Apesar dos desafios apresentados pela pesquisa, a Talis avaliou, também, os motivos pelos quais os docentes escolheram essa profissão – afinal, se a motivação é de apenas 10%, por que ser professor? Entre as principais respostas, estão “ajudar os que são socialmente desfavorecidos” (94%) e “contribuir para a sociedade” (97%). São justamente esses dois pilares que podem fazer toda a diferença na busca pela melhora da qualidade da educação brasileira.

Enquanto professores, existem diversas metodologias e estratégias que podem ser aplicadas diariamente em sala de aula para que seja possível construir uma sociedade mais justa e igualitária.

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Esse trabalho, que mescla conteúdos curriculares com discussões que afloram o pensamento crítico e social do estudante, é integral e constante. Relembrar os motivos pelos quais se formam professores é o combustível para levar adiante esse ideal, que floresce a longo prazo, e também para manter a cobrança por melhorias educacionais junto ao poder público. Unidos – governo, escolas, gestores e professores – é possível não apenas melhorar os resultados na próxima edição da Talis, mas também usufruir do que isso representa: educação intelectual e social de qualidade para todos.

Fontes:

https://escolasexponenciais.com.br/tendencias-e-metricas/pesquisa-talis-e-o-cenario-da-educacao-brasileira/

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48683505

http://download.inep.gov.br/acoes_internacionais/pesquisa_talis/resultados/2018/relatorio_nacional_talis2018.pdf