Drogas nas escolas – como trabalhar o assunto com os estudantes?

21 de fevereiro de 2020


O Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo, em 20 de fevereiro, é um lembrete da importância de falar sobre o tema. Considerado um assunto tabu para muitas famílias e para a sociedade em geral, o debate e a compreensão das consequências do uso indevido de substâncias socialmente aceitas, como o álcool e o tabaco, e drogas ilícitas, como o crack e a cocaína, se fazem cada vez mais necessários. E uma das melhores formas de incentivar a criticidade dos jovens é justamente realizar debates sobre o uso de drogas na escola. Mas, como abordar um tema tão sério e delicado com os estudantes

Um cenário preocupante

Diversas questões permeiam a situação do vício em drogas – cenário sociocultural, acesso à informação e condições emocionais são fatores decisivos na vida dos jovens e que devem ser levados em conta na hora de trabalhar a conscientização. Essas características devem ser trabalhadas no ambiente escolar, com o professor estimulando o pensamento crítico, o autoconhecimento e autocuidado dos estudantes.

Para mostrar a importância do trabalho de combate às drogas, a UNESCO do Brasil lançou em 2005 o livro técnico pedagógico Drogas nas escolas, voltado para gestores e coordenadores, apresentando o resultado de uma extensa pesquisa realizada em escolas de grande parte do Brasil, a fim de levantar dados sobre o primeiro contato com substâncias lícitas ou ilícitas pelos estudantes.

A pesquisa da UNESCO foi realizada com 50.049 estudantes, 3.099 integrantes do corpo técnico-pedagógico e mais de 10 mil pais e familiares de estudantes de escolas de 14 capitais – Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Maceió, Salvador, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Porto Alegre, Cuiabá, Goiânia e Distrito Federal.

Notou-se uma discrepância significativa quando o assunto é a realidade das drogas nas escolas: dos estudantes entrevistados, pouco mais de 23% afirmaram ter presenciado situações de uso de substâncias, lícitas e ilícitas, dentro das instituições de ensino; quando o público é o corpo docente, especificamente os professores, apenas 10,8% dos entrevistados disseram ter conhecimento do uso de drogas nas escolas. Do total da parcela de pais entrevistados, apenas 3,4% afirmaram saber da existência de drogas nas escolas.

Já o levantamento do IBGE, realizado em 2012, constatou que quase 51% dos educandos do 9º ano já experimentaram álcool pelo menos uma vez. Por experimentação, considerou-se cerveja, vinho, e doses de whisky ou cachaça. Grande parte desta parcela afirmou ter o primeiro contato em suas casas, ainda que os pais não saibam que os filhos provaram as bebidas.

O papel social da escola

Além de fatores sociais já conhecidos, o uso de drogas nas escolas tem como protagonistas jovens e adolescentes em fase de estruturação social, o que representa um risco a mais quando falamos em vício. Muitos jovens acabam tendo acesso ao álcool e ao tabaco, além de substâncias ilícitas, como forma de se sentirem aceitos e pertencentes a grupos sociais, o que é importante nesta época da vida. 

É por isso que a escola desempenha um papel fundamental na formação não apenas intelectual de seus estudantes, mas também no desenvolvimento humano e social, sendo o combate às drogas pauta essencial que deve ser dominada pelo professor a fim de explorar o tema de maneira a não estimular a curiosidade da turma, mas sim de conscientizá-los, desenvolvendo habilidades socioemocionais maduras o suficiente para que os jovens tomem decisões com criticidade e segurança nas comunidades em que estão inseridos.

O tema drogas na escola, entretanto, ainda é encarado com certa dificuldade por parte dos professores e demais profissionais da educação – seja por excesso de cuidado para não incentivar o uso, fazendo o “tiro sair pela culatra”, seja por mal entendidos que possam surgir entre o docente e os pais que enxergam o tema como tabu.

Para te ajudar a contornar essa situação sem deixar de conscientizar seus estudantes quanto ao uso de substâncias tóxicas, a Editora do Brasil organizou um passo a passo de como abordar o tema de drogas na escola de modo a integrar o corpo docente, educandos e professores. Veja abaixo.

Drogas na escola – como abordar?

Converse com pais ou responsáveis

As reuniões de pais são momentos de alinhamento entre os pais ou responsáveis e as ações da escola. Dessa forma, é indispensável uma conversa franca entre as famílias e os professores sobre a importância da conscientização sobre drogas na escola antes mesmo que o projeto e/ou atividade sejam iniciados. A ação é imprescindível para evitar mal entendidos no meio do processo, o que pode prejudicar tanto os estudantes quanto os professores.

É válido lembrar, também, que é muito importante evitar uma abordagem moralista durante essa conversa. O combate às drogas nas escolas não é uma questão de julgar o estudante ou o dependente químico, mas de conscientizar e oferecer ajuda a quem necessitar, levando informação, esclarecendo dúvidas, consolidando a escola como um porto seguro em questões de desigualdade social e tantas outras que podem influenciar fortemente o uso e o vício em drogas lícitas ou ilícitas. Com essa abordagem, é possível trabalhar com o fato dos pais e responsáveis serem espelhos e modelos para os filhos, principalmente no que tange a assuntos como substâncias lícitas, aceitas socialmente, naturalizando o assunto e deixando todos mais confortáveis.

Aproxime-se da realidade da turma

Uma vez alinhada a necessidade de combater as drogas nas escolas com os pais, é hora de entrar em ação com os jovens. Mas, por onde começar?

Uma possível solução é abordar o que é considerado “normal” e aceito socialmente: o álcool e o cigarro de tabaco, drogas lícitas que são mais suscetíveis de estarem no dia a dia de todos.

A partir daí, é possível iniciar a conversa sobre essas duas substâncias, sempre de modo informativo, e nunca ameaçador: discursos extremistas dificilmente criam uma conexão entre estudante e professor. 

O ideal é que o professor faça uma ligação sincera sobre o uso e as consequências no corpo e na mente do usuário, deixando para os estudantes a ligação entre o vício em drogas lícitas e ilícitas a uma vida não saudável.

Uma vez debatido sobre substâncias lícitas, é possível abordar as drogas mais “pesadas” e de efeitos mais devastadores, como o crack, a cocaína e outras – sempre no mesmo tom informativo, evitando moralismos e tons de ameaças.

Dê voz ao estudante

O combate às drogas nas escolas se dá entre estudante e professor. Ainda assim, assuntos delicados como esse envolvem a individualidade humana, o que faz com que um modelo apenas expositivo de conscientização não surta o efeito esperado.

Por isso, é muito importante ouvir a turma, suas dúvidas, questionamentos, relatos e até mesmo desabafos. Por mais informativo que o professor possa ser, ao não ouvir os estudantes, não se pode garantir sua assimilação sobre o tema, o que cria, na mente do jovem, a sensação de fuga – “se o professor não me ouviu, quem vai ouvir”?

É possível, por exemplo, estabelecer regras sobre como os estudantes farão suas intervenções, a fim de garantir o sigilo de pessoas envolvidas em seus relatos. Isso garante um debate saudável, rico e sincero.

É importante lembrar que essas ações não se limitam a algumas aulas, mas é um tema que deve ser abordado sob diversas óticas, dentro dos conteúdos previstos no currículo escolar. Além de debates, o professor pode combinar projetos já previstos com o assunto “drogas na escola”, tornando o trabalho sobre o tema ainda mais natural e efetivo. Só com a naturalização da conscientização e a quebra de tabus que será possível para as escolas ultrapassarem os limites intelectuais, e se tornarem elementos efetivos de transformação social.

Fontes:

https://escoladainteligencia.com.br/como-abordar-a-prevencao-as-drogas-na-educacao/

https://www.minhavida.com.br/familia/materias/18479-abuso-de-alcool-na-adolescencia-prejudica-aprendizado-e-socializacao

http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/unesco-resources-in-brazil/studies-and-evaluations/violence/drugs-in-schools/

https://unesdoc.unesco.org/in/documentViewer.xhtml?v=2.1.196&id=p::usmarcdef_0000139387&highlight=Drogas%20nas%20escolas&file=/in/rest/annotationSVC/DownloadWatermarkedAttachment/attach_import_03791e55-3d6e-4607-923f-587b39ee6ab6%3F_%3D139387por.pdf&locale=en&multi=true&ark=/ark:/48223/pf0000139387/PDF/139387por.pdf#%5B%7B%22num%22%3A212%2C%22gen%22%3A0%7D%2C%7B%22name%22%3A%22XYZ%22%7D%2C56%2C760%2Cnull%5D

http://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/2908-20-02-dia-nacional-de-combate-as-drogas-e-ao-alcoolismo