Competências socioemocionais: como trabalhar com os alunos?

26 de novembro de 2019


A Base Nacional Comum Curricular, a BNCC, é um documento normativo que prescreve as diversas áreas do conhecimento que devem ser abordadas em todos os níveis da Educação Básica no Brasil, com o prazo máximo de adequação às suas diretrizes previsto para 2020. Um dos requisitos presentes que mais chama atenção é a relevância das competências socioemocionais como um elemento a ser trabalhado dentro de sala de aula. 

Mas, como abordar as competências socioemocionais dos alunos transversalmente à grade acadêmica e teórica?

Competências socioemocionais na construção do ser

A aplicação da BNCC causa certo alerta na comunidade escolar. Não é incomum encontrarmos professores e gestores integralmente dedicados ao desafio de fazer funcionar, na prática, um documento tão elaborado e minucioso. Um dos motivos de tamanha atenção é justamente a recomendação do desenvolvimento habilidades e competências socioemocionais. Ainda assim, se analisarmos muito ao pé da letra, percebemos que nada é assim tão complicado.

Isso porque, com o tempo, o ambiente escolar passa cada vez mais a se tornar um espaço de construção do ser, e não apenas um local de desenvolvimento e assimilação de conteúdos teóricos e acadêmicos.

O que isso significa? Isso quer dizer que além de componentes curriculares, como Língua Portuguesa, Matemática, Geografia e História, o aluno também tem, na escola, as bases do que o torna cidadão, o fazendo se reconhecer como ser integrante de uma sociedade. 

Assim, uma simples eleição do grêmio escolar pode se tornar, além de um experimento de estudos de Geografia e Matemática, uma grande oportunidade para que as crianças tenham acesso, por exemplo, ao conceito de cidadania e política – o que não são disciplinas clássicas, e sim formações que contribuem para o desenvolvimento do ser social.

O exemplo acima é, naturalmente, apenas uma das inúmeras possibilidades de abordagens de competências socioemocionais. De fato, existem várias definições e caminhos nos levam a elas. Mas, se podemos nos arriscar a criar uma síntese de todos eles, tais competências podem ser consideradas como uma dimensão comportamental, ou seja, algo que se relaciona com a atitude dos alunos, bem como sua relação com os outros indivíduos – outros alunos, professores, gestão, funcionários, etc.

É exatamente por isso que é altamente importante a abordagem de competências socioemocionais em sala de aula. A escola, por si só, pode ser encarada como uma mímesis da sociedade, e é nesse ambiente que o aluno pode (e deve) aprender os limites do outros, as convenções do convívio, bem como tomar ciência de seus direitos e deveres de forma espontânea, saudável e autônoma. 

Mas, é possível ensinar competências socioemocionais?

Muitas pesquisas, principalmente durante o século XIX e início do XX, buscaram descobrir o que acontece com o homem ao qual não lhe é ensinado nenhum conceito social. Apesar de praticamente todas não obterem sucesso devido a diversos impedimentos éticos, o fato é que a todos nós, em algum momento de nossas vidas, foi “ensinado” que não se deve roubar, por exemplo, ou que se deve respeitar a opinião do outro. Muito da nossa vivência (para não se dizer tudo) é aprendido, adquirido de outra fonte. Então, por que não seria possível desenvolver competências socioemocionais em sala de aula?

Acontece que, ao afirmarmos que ela pode, sim, ser ensinada, surge em sequência outro questionamento: quem ensinará, dentro das escolas, as competências socioemocionais? O professor de História? O de Língua Portuguesa? O de Sociologia? A resposta mais objetiva seria: todos. 

Esse é o xis da questão quando falamos de competências socioemocionais. Como um ensino humanizado, ela deve ser trabalhada em conjunto entre todos os professores (e, porque não, toda a comunidade escolar), uma vez que não é considerada um componente curricular, configurando-se como uma competência geral – um conjunto de habilidades que devem ser desenvolvidas da melhor forma possível ao longo dos anos dentro do ciclo escolar. 

E como ensinar?

Mas, se todos os professores de todos os componentes curriculares podem (e devem) ensinar competências socioemocionais, como poderia ser criado um plano de aula para esse tema em específico? A resposta é clara: de acordo com a habilidade e a disciplina de cada professor, aborda-se o tema a partir de dois pilares: o alinhamento com o PPP e a horizontalidade da BNCC.

Assim, ao delimitarem o Projeto Político Pedagógico, o PPP, professores e gestão podem incluir temas genéricos socioemocionais que dialoguem com o objetivo da escola. Ou seja, ao criar o Projeto, deve-se responder: “que tipo de aluno eu quero formar?”, “Quais valores sociais devem ser reforçados dentro da nossa comunidade escolar?”, por exemplo. Responder essas e outras questões já é dialogar sobre competências socioemocionais que poderão ser abordadas em sala de aula, independentemente da disciplina.

Outra maneira de abordar o tema é através da própria BNCC. Uma das características do documento é justamente a horizontalidade de propostas, que abrangem diversas competências, gerais ou específicas, na mesma proposição. Assim, fica mais fácil identificar pontos da própria Base que possam dialogar com competências socioemocionais.

Um exemplo

Para compreender melhor como as competências socioemocionais podem ser trabalhadas na prática dentro da sala de aula, tomemos o exemplo da “empatia”, um valor humano que não consta necessariamente como um componente curricular.

Uma boa forma de “ensinar” empatia, por exemplo, é através de debates. Vamos usar como exemplo uma aula de História do Ensino Médio, cujo conteúdo seja a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto – temas que, por si só, já exemplificam o extremo oposto do valor que será abordado. 

O professor pode, por exemplo, exibir um documentário sobre e, após a exposição, realizar um debate sobre o tema do Holocausto – o que levou a situação a existir e todas as consequências, geográficas e humanitárias, do genocídio. 

E, ao final do debate, o professor pode intervir, induzindo o aluno a fazer uma autorreflexão da atividade: alguém “cortou” a vez de alguém?, Impuseram a opinião sobre o outro?, Houve desentendimentos ou tudo correu bem? A partir da postura da turma durante a atividade, é possível abordar a empatia e a importância do respeito à opinião alheia.

É válido lembrar que existem diversas formas de se abordar empatia e outras competências socioemocionais – seja um debate sobre diversidade cultural, racial e sexual, na eleição do grêmio, num concurso cultural e em pequenas atitudes, como a simples demonstração de atenção e dedicação do professor pelo aluno. 

Essas e outras situações tornam o professor não apenas um educador, mas também um “acolhedor”, que instigará mudanças, ainda que inicialmente sutis, no dia a dia de cada aluno, até que germinem e se tornem competências que farão a diferença na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

 

Fonte:

https://novaescola.org.br/conteudo/11736/para-entender-as-competencias-gerais-da-base-e-as-socioemocionais

https://issuu.com/editoradobrasil/docs/ed2 – Páginas 22 a 25 – “ Como desenvolver as capacidades socioemocionais nos alunos”