Competências da BNCC: como trabalhar o projeto de vida

28 de fevereiro de 2020


A Base Nacional Comum Curricular, a BNCC, possui dez competências gerais que devem reger os currículos da Educação Básica, da Educação Infantil ao Ensino Médio. Um dos destaques dessas diretrizes é a de número seis, que gira em torno de trabalho e projeto de vida. Uma das habilidades necessárias para essa competência geral da BNCC é que o estudante crie a capacidade de gerir e planejar os próprios desejos e objetivos sociais – o que traz certo grau de dúvida para os professores. Afinal de contas, como abordar um tema tão pessoal na sala de aula?

O que a BNCC prevê?

Na íntegra, a competência geral da BNCC que trata de trabalho e projeto de vida propõe que a turma valorize “(…) a diversidade de saberes e vivências culturais, [apropriando-se] de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade”.

Na prática, essa competência busca fazer com que os estudantes tenham a capacidade de gerir suas próprias vidas – e isso não significa “gerir a vida sem a família”. Muito pelo contrário. O objetivo é fazer com que cada indivíduo da turma crie consciência da sua vivência em sociedade, apropriando-se da cultura como forma de se enxergar pertencente e participativo a ela.

“Planejar a vida”, no ambiente escolar, caminha ao lado do desenvolvimento de competências socioemocionais que devem ser trabalhadas transversalmente. Assim, desenvolver a capacidade de idealizar planos, traçar estratégias e colocá-las em ação, a fim de criar confiança e autonomia em situações reais, são fatores essenciais para o êxito dessa competência. Dessa forma, temas como o combate às drogas, o respeito às diferenças e outros, tornam-se carros chefes para serem trabalhados em sala de aula.

Por que é importante?

Além de todo o conhecimento intelectual que se espera que o estudante adquira ao longo da Educação Básica (e aqui são consideradas as competências específicas da BNCC), a escola, também atuando como espaço formador social e pessoal, deve trabalhar a fim de que cada educando construa uma imagem afirmativa de si mesmo, projetando seus objetivos com pensamento crítico.

Por exemplo: uma exposição participativa sobre o combate às drogas na escola pode suscitar ações nos estudantes voltadas para a conscientização, fazendo toda a diferença na hora em que ele se deparar com uma situação em que deve recusar uma oferta de  substâncias lícitas ou ilícitas. Em outras palavras, esta ação específica aproxima a realidade social para dentro da instituição de ensino, estimula o pensamento crítico do estudante, que terá outro olhar para a mesma questão. Isso já é tanto a estrutura quanto a importância do projeto de vida.

Competências da BNCC: trabalhando projeto de vida

Compreender a competência 6 “trabalho e projeto de vida” pode ser mais fácil do que desenvolver uma abordagem para ela. “Como trabalhar temas tão pessoais a cada estudante dentro de uma sala de aula com vários jovens diferentes?”, você pode se perguntar.

O segredo é simples. Por seu caráter generalista, tanto essa quanto as outras nove competências gerais da BNCC, não possuem um componente curricular de aplicação específica. A primeira dica, então, é encontrar, dentro da sua área de atuação, quais temas melhor conversam com questões relacionadas às competências exigidas pelo trabalho e projeto de vida. 

Abaixo, selecionamos algumas ideias de abordagens para algumas disciplinas presentes no Ensino Médio. É válido lembrar que, além de aplicá-las, você também pode adaptá-las ou se inspirar para criar algo totalmente novo.

Buscando identidade(s) numa sociedade plural

Parte da competência seis da BNCC é que o estudante faça “escolhas alinhadas com o exercício da cidadania”. Para isso, é preciso que cada indivíduo da turma consiga se reconhecer como alguém socialmente atuante. A grande diversidade social brasileira, dada a extensão do país, regionalismos e tantas outras particularidades, torna esse exercício um pouco mais complexo.

Para isso, em aulas de História, é possível fazer o resgate familiar dos estudantes. Feito oralmente, toda a turma terá conhecimento da história de cada família ali presente, o que reforça o caráter plural do brasileiro. Em aulas de Língua Portuguesa, por exemplo, a busca por particularidades na escrita, no sotaque, na oralidade e outros aspectos linguísticos instiga o estudante a romper as barreiras da comunidade em que está inserido e conhecer a fundo as individualidades de cada povo brasileiro. 

Tais ações fazem a turma compreender a máxima de que “é normal ser diferente”, sendo mais fácil encontrar e, principalmente, aceitar sua própria identidade de maneira leve e natural, ao passo que se desenvolve empatia pelo próximo em sua singularidade.

Responsabilidade social

Inspirar ações de responsabilidade social é uma abordagem que pode complementar a sugestão anterior, além de ser um prato cheio para aulas de Geografia e, principalmente, Sociologia e outros componentes da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. 

Assim, ao passo em que são abordadas as particularidades da população brasileira, inevitavelmente problemas de cunho social surgirão – a seca, a fome, a desigualdade de renda, racismo, homofobia e tantos outros.

Mais do que encontrar sua identidade, é saber usá-la em prol da sociedade. E nada melhor do que desenvolver debates e rodas de leitura e conversa sobre responsabilidade social. É possível até mesmo que as próprias turmas se unam com a finalidade de criar ações de responsabilidade social, seja a doação e distribuição de livros, aulas de reforço ou pré-vestibular comunitárias, coleta seletiva de lixo pelo bairro, etc. Assim, desenvolve-se, literalmente, a habilidade de colocar em ação planos que afetarão tanto as vidas dos estudantes quanto da comunidade escolar.

Planejamento e execução – da escola à vida

Quando um estudante realiza uma pesquisa para um trabalho, as etapas que intuitivamente ele passará são quase as mesmas: delimitação de tema, seleção de fontes, compilação e produção. No Ensino Médio, é muito comum que os professores usem argumentos como “isso é um treino para os trabalhos da faculdade”, ou “vocês vão lembrar disso no TCC de vocês”.

Ainda que essa comparação não esteja errada, existem analogias um pouco mais eficazes – como, por exemplo, aproximar a metodologia de uma pesquisa à execução de planos nas nossas vidas.

Assim, para qualquer área do conhecimento, mostrar para a turma que tudo requer planejamento e organização antes da ação é essencial para o crescimento profissional, crítico, social e pessoal para cada indivíduo da turma. 

É válido lembrar que, independente da abordagem ou do ponto de vista que deseja adotar, é importante sempre colocar o estudante no centro da aprendizagem. O papel de protagonista em situações que envolvem a particularidade de cada um é essencial para o sucesso de qualquer ação.

Fontes:

https://novaescola.org.br/bncc/conteudo/10/competencia-6-trabalho-e-projeto-de-vida#_=_

https://novaescola.org.br/bncc/disciplina/97/competencias-gerais

http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf