Como reviver a tradição oral em sala de aula

16 de novembro de 2019


A oralidade, capacidade de organizar os pensamentos e de comunicá-los a outra pessoa por meio da fala, é um dos elementos que caracterizam o ser humano. Visto que comunidades de animais, como abelhas e formigas, possuem um sistema de comunicação, o que nos difere é justamente a capacidade de “combinar” infinitamente um número limitado de sons que compõem as línguas humanas para exprimir uma ideia, um pensamento, sensações, entre inúmeros outros eventos. É por isso que desde sempre o homem se insere numa realidade de tradição oral. 

Assim, antes mesmo de escrever, o homem desenvolve a capacidade de se comunicar oralmente. Mais do que “conversar”, essa característica possui outro aspecto primordial: o da sobrevivência. 

O exemplo dos nativos

Tomemos, por exemplo, os povos indígenas brasileiros. Diversas tribos povoavam o Brasil antes da colonização. Isso significa que cada tribo, indefinidamente, já possuía um sistema social, uma forma de viver, que era repassada de geração em geração, até a chegada dos portugueses. 

A perpetuação dessa cultura (ou seja, tudo aquilo que é cultivado, como hábitos sociais) se dá, não por acaso, oralmente. Os nativos brasileiros, em muitos casos até hoje, são um grande exemplo de como a prevalência cultural de um povo pode depender quase exclusivamente da tradição oral, da contação de histórias, das metáforas das lendas narradas uns para os outros. Este era o único meio de manter os costumes vivos. Sem oralidade, não há cultura. Sem cultura, não há povo.

A tradição oral na criança 

Com o desenvolvimento da escrita, a tradição oral passa, ao longo de vários séculos, a dividir espaço nas culturas, principalmente ocidental. Isso não significa, por outro lado, que a oralidade está morta. 

É através dos estímulos orais que a criança terá o primeiro contato com a língua materna, treinando o cérebro para a etapa de abstração – ou seja, a língua escrita, conjunto de letras que serão atreladas aos sons aprendidos ao longo da infância. É justamente por isso que é muito comum que, na Educação Infantil, sejam trabalhadas parlendas (as famosas rimas infantis como “um, dois, feijão com arroz”), cantigas de rodas e diversas atividades que envolvem a oralidade.

E no Ensino Fundamental?

Com o início da adolescência, cada vez mais a tradição oral é deixada em segundo plano. Aplicativos de mensagens instantâneas substituem os encontros pessoais, a facilidade e fascínio da internet tiram o tempo da “contação” de histórias – o mundo digital entra no lugar, por meio de textos, vídeos, imagens, e diversos outros recursos, oferecendo outras possibilidades de oralidade.

Mas não é prudente dizer que a tecnologia é uma vilã, muito pelo contrário. Porém, é preciso que o professor incentive em sala de aula um equilíbrio entre o digital e o analógico, permanece a possibilidade da oralidade no mundo tecnológico, nem todas trocas de mensagens pelo Whats App, por exemplo, representam o “toma lá, dá cá” de uma conversa. Vídeos e podcasts, por exemplo,  colocam a pessoa numa posição de ouvinte passivo, sem a possibilidade de desenvolver o outro lado da tradição oral, que consiste em também se manifestar.

Portanto, se você quer resgatar a cultura oral nos seus alunos e fazê-los perceber a importância dela, nós separamos uma proposta de atividade que pode ser aplicada em sala de aula – ou até mesmo adaptada, dando asas à imaginação.

O que os livros não contam

Se a tradição oral tem como finalidade a perpetuação de uma cultura, de uma memória coletiva, então nada melhor do que fazer um bom planejamento para uma aula de História, correto?

Uma ótima opção, então, é trabalhar a história do bairro ou, preferencialmente, da cidade em que a escola está inserida. O objetivo, aqui, é mostrar a importância da oralidade, que guarda histórias muitas vezes descartadas na escrita de um texto formal.

Para isso, você pode pedir que seus alunos conversem com os familiares ou conhecidos de maior idade, normalmente avós ou bisavós, para estes contarem histórias sobre como chegaram à cidade, como a sociedade funcionava em décadas passadas e diversas outras particularidades que vivenciaram em tempos idos. 

É importante que esse bate-papo dos alunos com as gerações mais antigas seja registrado. Assim, os principais pontos podem ser levantados em sala de aula. Isso porque a segunda etapa é um debate entre a turma e o professor sobre todas as informações levantadas pelos estudantes.  Considerando que todos falarão sobre a história da mesma cidade, espera-se que os relatos sejam minimamente convergentes.

Após o debate, o professor trabalha um texto acadêmico sobre a história do bairro ou cidade, propondo que encontrem semelhanças e diferenças. Nessa etapa, são levantadas as informações e dados que os entrevistados se lembram sobre a história local e que não aparecem nos textos oficiais. Assim, é possível propor a criação de um livro sobre a história da cidade, muito mais detalhado e rico, tendo a oralidade também como evidência e fonte de informação.

Fonte:

https://novaescola.org.br/conteudo/3338/tradicao-oral-abre-caminho-para-reescrever-o-passado