Como evitar o abandono e a evasão escolar?

5 de março de 2020


A evasão escolar é um problema recorrente no ensino público brasileiro. Não é à toa que a gestão escolar faz deste assunto pauta de planejamentos e reuniões a fim de aprimorar metodologias e o aprendizado dos alunos. Na verdade, falhas na execução destes elementos colaboram para os índices de desistência dos estudantes. Tendo isso em vista, vale a pena a autorreflexão enquanto profissionais da área: é o estudante que abandona a escola ou a escola que abandona o estudante?

Abandono versus evasão escolar

Antes de adentrarmos nos números que configuram o preocupante cenário da evasão escolar no Brasil, é importante definir muito bem o termo. Muitas vezes usados como sinônimos, evasão e abandono escolar são, na verdade, conceitos distintos.

Por abandono escolar, entende-se o estudante que deixa de frequentar as aulas durante o ano letivo, o que acarreta consequências em sua aprovação. Já a evasão escolar, refere-se ao jovem que não realiza a re-matrícula no novo ano letivo, seja ele reprovado ou não.

Seja por abandono ou evasão, o número de jovens em idade escolar que não vão à escola é crítico. Segundo os últimos dados do Movimento Todos Pela Educação, referentes ao ano de 2018, dos 3,2 milhões de brasileiros de 19 anos, apenas dois milhões, cerca de 60%, tinham concluído o Ensino Médio. Os dados foram levantados com base nos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC).

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a maior taxa de abandono se dá na faixa dos 15 aos 17 anos: foram mais de 1,3 milhão de jovens nestas idades que não estudavam em 2017. O resultado marca o Ensino Médio como gargalo da evasão escolar.

Engajamento: uma via de mão dupla

Os números sobre abandono e evasão escolar são expressivos e levantam questões a respeito dos motivos pelos quais existem. Afirmar que os jovens são os únicos responsáveis por deixar os estudos seria uma generalização, o que não resolve o problema. Então, cabe ao poder público, à gestão escolar e aos demais envolvidos no meio da educação, encabeçar a discussão sobre o que pode ser feito para diminuir essas taxas.

Em entrevista à Revista Nova Escola, a diretora-presidente da Comunidade Educativa CEDAC, Tereza Perez, provoca o debate sobre o papel da escola na evasão do estudante: “se a escola se distancia das necessidades dos estudantes, não se relaciona, se isola e abandona o contexto daquela comunidade, quem é que abandona quem?”.

Manter uma metodologia ativa e inclusiva, que abrace e compreenda tanto o jovem educando quanto a comunidade à qual ele e a escola estão inseridos, é essencial para o engajamento da turma e o sucesso do papel da instituição na educação intelectual e social do estudante. É uma via de mão dupla, em que um se molda ao outro para o bem comum. 

Engajada, a turma não apenas consegue driblar o abandono e evasão escolar, mas também diminui a taxa de reprovações, reduzindo as distorções de idade/série, fator que, segundo Tereza, é igualmente ligado às questões que levam à desistência dos estudos: “Se pensarmos que hoje, no Brasil, temos 40% dos alunos em distorção idade-série, isso significa que 40% já repetiu pelo menos duas vezes e quem sofre com esse insucesso da escola é o próprio estudante”.

Tendo isso em vista, como podemos construir, enquanto educadores, um ambiente que acolha e compreenda o jovem, a fim de mitigar o problema da evasão escolar? A Editora do Brasil te dá algumas dicas. Confira.

Dê um propósito para o estudante

Um estudante com dificuldade em conceitos de Matemática, Química e Física, certamente não apresentará interesse nem engajamento na hora de frequentar tais aulas ou de estudar esses conteúdos. O mesmo pode se dizer para os jovens que sentem as mesmas dificuldades para as aulas de Língua Portuguesa, Geografia ou História.

“Forçar” excelência em matérias em que os estudantes possuem dificuldades apenas por forçar não é garantia de engajamento por parte da turma. Normalmente, usamos o vestibular ou o Enem como motivos pelos quais o jovem deve se sair bem no Ensino Médio – o fato é que isso não basta para criar interesse para frequentar as aulas.

Assim, é importante que o professor contextualize os conteúdos não apenas com o mercado de trabalho, mas com a vida fora da escola de um modo geral, tentando fazer a máxima aproximação com o dia a dia do estudante. Quanto mais próximo os conceitos estiverem da realidade, mais a turma sentirá vontade de ir à escola e de se empenhar em aprender – ainda que não seja a matéria que mais agrada os estudantes. 

Torne a turma protagonista

Com essa aproximação,  a ação mais esperada é que o professor dê espaço de fala para o estudante e o coloque no papel protagonista do processo de ensino-aprendizagem. Tornar a metodologia menos unilateral, fazendo a turma perceber as etapas do conhecimento é fundamental para que o jovem encontre seu lugar dentro da escola.

Além de fazê-lo compreender as etapas do processo de ensino-aprendizagem, também é importante ouvi-los em momentos de debate social: mais do que ser um agente que traz informação sobre questões como o combate às drogas, o respeito às diferenças, o fim do racismo e do bullying, o professor também deve dar espaço para que os próprios estudantes, que vivem tais situações diariamente, se manifestem, debatam e desenvolvam um pensamento crítico sobre esses e outros temas.

Engaje a turma e a comunidade

Por também ser um ambiente de formação social, a escola deve funcionar como uma ponte entre a comunidade local, os educadores e os próprios estudantes. A criação de feiras de ciências, mostras culturais e até mesmo festas (juninas, de primavera, fim de ano, etc.) são apenas alguns exemplos de como a instituição de ensino consegue atingir a comunidade, mostrando a ela a importância e a relevância dos estudos na vida dos jovens.

A partir de ações como essas, é possível alçar voos mais altos, permitindo a criação de redes de apoio, aulas pré-vestibular comunitárias e tantas outras ações que aproximem ainda mais a comunidade e o estudante da escola. Uma vez criada tal relevância, as próprias famílias também compreenderão a transcendência da frequência escolar e do aprendizado, o que faz com que elas funcionem como um agente que incentiva o estudante, evitando a evasão escolar.

Preocupe-se com a presença do estudante

Lidar com uma sala de aula é uma tarefa única. Ao mesmo tempo em que o professor precisa garantir o mesmo aprendizado para todos os estudantes, ele precisa compreender que cada um ali presente possui suas particularidades e a própria história de vida – que, muitas vezes, acaba contribuindo tanto para um rendimento abaixo do esperado quanto para o abandono e evasão escolar. 

Ao perceber que um jovem se inclina para tal caminho, é importante que o professor, dentro das possibilidades, busque entendê-lo e mostre interesse e preocupação. Não é errado que o estudante perceba que o professor se preocupa com “o que está acontecendo” para que ele falte tanto – esse é justamente o caminho esperado.

Por meio de ações como estas a escola passa a ser vista também como um ambiente acolhedor, onde o jovem se sente seguro para dialogar e se abrir sem prejulgamentos ou outros empecilhos que atrapalham seu dia a dia escolar.

Tais práticas ajudam a conter a evasão escolar, transformando a instituição de ensino e o processo de ensino-aprendizagem mais agradáveis e atraentes. É um trabalho incessante, de tempo integral, o ano inteiro, cujo resultado é mensurado ao longo do tempo, e não a curto prazo. Mais do que isso, continuar cobrando o poder público por melhorias na educação, desde o salário do professor até o aprimoramento das condições de trabalho (como a infraestrutura da escola, quantidade de alunos por turma e diversas outras questões que influenciam tanto no aprendizado do estudante quanto no dia a dia da sala na aula) são funções essenciais do educador comprometido com o tema. Dedicação e empenho são, dessa forma, peças-chave para o sucesso da escola e, ainda mais importante, do estudante.

Fontes:

https://gestaoescolar.org.br/conteudo/2217/abandono-e-evasao-escolar-estudante-deixa-a-escola-ou-a-escola-se-distancia-da-realidade-do-aluno

https://www.qedu.org.br/brasil/taxas-rendimento/todas-as-redes/rural-e-urbana?year=2017

https://www.todospelaeducacao.org.br/conteudo/quatro-em-cada-10-jovens-de-19-anos-ainda-nao-concluiram-o-ensino-medio

https://novaescola.org.br/conteudo/15467/censo-escolar-educacao-basica-perde-13-milhao-de-alunos-em-quatro-ano