Como controlar e contornar o cyberbullying na escola

6 de dezembro de 2019


Cada vez mais, torna-se urgente o debate e a atenção ao cyberbullying nas escolas. Motivos para isso não faltam: de acordo com dados divulgados em setembro de 2019 pela Organização Pan-Americana de Saúde do Brasil (OPAS-BRASIL), estima-se que 10% a 20% dos adolescentes em todo o mundo se encontram em algum nível do quadro de depressão. Por “adolescentes”, a organização considera jovens de 10 a 19 anos. Ainda segundo a mesma pesquisa, o suicídio se mantém como terceira maior causa de morte nesta faixa etária.

Já no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, também de setembro deste ano, os episódios de depressão em adolescentes tratados pelo SUS cresceu 52% entre 2015 e 2018, alcançando mais de 121 mil ocorrências. “A depressão, às vezes, é vista como ‘frescura’. (…) As pessoas diminuem a importância, eventualmente, de um drama pra um adolescente que, em tempos de internet, é super amplificado”,comentou Henrique Mandetta, ministro da Saúde, à época da divulgação dos dados.

Do bullying ao cyberbullying – por quê se atentar?

A declaração do ministro Mandetta vai ao encontro da realidade à qual os jovens dos tempos de hoje estão inseridos. A popularização da internet e das redes sociais, cada vez mais acessadas em dispositivos móveis, como tablets e smartphones, cria um ambiente virtual extremamente difícil de se monitorar. Assim, o que antes era praticado apenas no “mundo real”, agora migra também para o on-line, recebendo nova nomenclatura: cyberbullying.

O impacto direto do mundo digital na vida dos indivíduos é difícil de mensurar. Isso porque, se não temos acesso a casos de cyberbullying e similares em nossas redes sociais pessoais, podemos acabar nos inclinando a acreditar que isso não existe. O que é, naturalmente, incorreto: a ridicularização, humilhação e exposição indevida de pessoas on-line é cada vez mais comum. Segundo um levantamento feito pelo Instituto Ipsos em junho de 2018, de 23 países analisados, o Brasil é o segundo com mais casos de cyberbullying no mundo.

Para o doutor em Psicologia Escolar e professor da Unesp, Nelson Pedro Silva, o cyberbullying, principalmente nas redes sociais, reflete o momento cultural de uma sociedade, tornando-se muitas vezes mais agressivo do que o bullying “convencional” por haver, no ambiente digital, uma falsa impressão de anonimato. 

Existe, entretanto, outro ambiente que também poderia ser considerado uma “simulação”, o termômetro e o pilar de mudança de uma sociedade: a escola. E é justamente por ela que devemos, enquanto profissionais da educação, conscientizar os jovens sobre a depressão na adolescência e os perigos que tal prática acarreta.

O papel da escola

Identificando o cyberbullying 

A instituição de ensino, como ambiente de formação não apenas acadêmica, mas também pessoal e humanística, não deve medir esforços na luta contra o bullying na escola e o cyberbullying para além dos muros físicos, estando sempre atenta para possíveis casos de coação ou humilhação entre os alunos.

O cyberbullying desencadeia efeitos nefastos nas suas vítimas, principalmente no campo emocional e psicológico. Tristeza, raiva e  frustração são algumas das primeiras sensações experimentadas, o que pode levar a casos graves de depressão na adolescência. 

Torna-se, então, um desafio da gestão escolar, bem como dos professores, identificar possíveis casos. É importante estar atento a possíveis mudanças de comportamento nos alunos, como distúrbios do sono (alunos que antes eram ativos e, com o passar do tempo, passam a demonstrar cansaço extremo nas aulas), transtornos estomacais e alimentares, irritabilidade, depressão, autoexclusão, ansiedade e pensamentos e atitudes destrutivas ou autodestrutivas. 

Como lidar com o bullying nas escolas e na internet com os alunos?

A coordenadora pedagógica do projeto de Educação em Direitos Humanos do Instituto Vladimir Herzog “Respeitar é Preciso”, Neide Nogueira, defende a abordagem, em sala de aula, de diversos valores sociais e competências socioemocionais como forma segura e eficaz de combater não apenas o bullying nas escolas, mas também o cyberbullying. Segundo ela, abordar tais pontos estimula a criação de situações nas quais é possível lidar com eventuais casos de humilhação, autoritarismo ou discriminação dentro das instituições de ensino. 

A própria BNCC prevê, em sua prescrição, a abordagem transversal de temas como liberdade de expressão, respeito às diversidades e outras habilidades socioemocionais como forma de ampliar o desenvolvimento do aluno como ser humano. Aplicar tais conceitos não se torna responsabilidade de um único professor, mas sim um esforço mútuo de todos os profissionais que, dentro dos próprios conteúdos programáticos, incluem valores e outros assuntos que acarretem discussões e debates que podem contornar e controlar o cyberbullying. Nós, da Editora do Brasil, já postamos um artigo sobre como trabalhar competências socioemocionais em sala de aula, e você pode conferir clicando aqui.

É válido lembrar, também, que além da BNCC prever o estímulo ao respeito e igualdade dentro de sala de aula, promover a paz e disseminar medidas de combate ao bullying, em seu formato on-line  ou não, é lei. O texto 13.185/2015 assegura que todas as escolas tomem medidas contra o bullying e cyberbullying, seja por meio de workshops, palestras ou mesmo atividades em sala de aula. 

No caso da comprovação de um caso de cyberbullying, a escola tem o dever de dirigir-se exclusivamente aos alunos envolvidos, bem como a família dos mesmos, a fim de encontrar uma solução para a situação, além de informar a todos as consequências legais de tal prática. Essa conduta é extremamente importante, visto que a instituição de ensino é responsável por todos os alunos durante o período que ali permanecem. Ao persistirem as ocorrências, os próprios pais podem responder legalmente.


Cyberbullying: proteja-se

  • Armazene provas, como printscreens e arquivos recebidos (fotos, vídeos, e-mails), bem como a fonte proveniente, quando possível
  • Encaminhe tais provas a um Tabelião de Notas, solicitando uma Ata Notarial. Este documento descreve e comprova o conteúdo das provas.
  • Procure a Defensoria Pública (ou um advogado particular) para que este estude a possibilidade e/ou necessidade de medidas judiciais ou extrajudiciais sobre o caso.
  • Busque acompanhamento psicológico, para a vítima e/ou para a família, quando necessário.

Se você quer saber mais sobre o assunto, é só ouvir o nosso podcast Arco43. No episódio #06, Sanderli Bicudo (mestra em Educação Escolar pela Faculdade de Ciências e Letras UNESP/Araraquara) e Felippe Angeli (bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo e mestre em Ciências Políticas pela Université Paris II) debatem sobre violência e bullying nas escolas. Para escutar na íntegra, é só clicar aqui.

 

FONTES:

https://escolasexponenciais.com.br/desafios-contemporaneos/cyberbullying-como-as-escolas-podem-evitar-e-combater/

https://g1.globo.com/bemestar/depressao/noticia/2019/09/17/atendimentos-do-sus-a-jovens-com-depressao-crescem-115percent-em-tres-anos.ghtml

https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5779:folha-informativa-saude-mental-dos-adolescentes&Itemid=839

https://www.ipsos.com/sites/default/files/ct/news/documents/2018-06/cyberbullying_june2018.pdf