Aprendizagem colaborativa: aprenda a ir além do trabalho em grupo na sala de aula

18 de março de 2020


Os modelos de ensino devem seguir as características dos jovens de cada tempo. É por isso que hoje, no mundo conectado em que vivemos, é inegável considerar que o formato apenas expositivo de aula já não se aproxima do estudante. Por isso, cada vez mais se incentiva uma postura horizontal entre professor e turma, fazendo se valer de metodologias interativas e da aprendizagem colaborativa. Mas, o que é, de fato, esse conceito e como abordá-lo na prática?

Metodologia interativa

A aprendizagem colaborativa surge como uma metodologia interativa de ensino que tem como propósito romper o modelo tradicional, em que a turma recebe, passivamente, todas as informações do único detentor de conhecimento e protagonista do processo de ensino: o professor. Essa nova abordagem nos propõe que, tão importante quanto alcançar objetivos (aprender um conteúdo), é compreender os caminhos que nos levam até eles. Assim, mais do que aceitar o conhecimento do docente, o estudante é incentivado a debater, criar ideias e a pensar criticamente sobre o conteúdo que recebe. 

Dessa forma, na aprendizagem colaborativa abre-se uma via de mão dupla entre turma e docente, tornando o aprendizado bilateral. Em outras palavras, o jovem torna-se, tanto quanto professor, protagonista de seu próprio processo de ensino

Aprendizagem colaborativa X trabalho em grupo

O conceito de aprendizagem colaborativa, por outro lado, não pode ser confundido com trabalhos em grupo. A depender da forma com que o trabalho é solicitado à turma, o fato de executá-lo em grupo não garante, essencialmente, a troca de conhecimento. Segundo a Supervisora Pedagógica do Núcleo de Educação a Distância (NEaD) da Universidade São Francisco, professora doutora Lilian Costa, “(…) é, na verdade, um processo de ensino e aprendizagem que ocorre necessariamente por meio do compartilhamento e discussão de ideias. Isso quer dizer que o aprendizado de um é parte fundamental do percurso de aprendizagem do outro, com ganhos mútuos”.

Dessa forma, debates em sala de aula, o desenvolvimento de projetos que envolvam a comunidade e diversas outras atividades ou formas de ensino que façam o estudante assumir o papel protagonista são muito mais efetivas, enquanto aprendizagem colaborativa, do que um simples trabalho em grupo. O que está em jogo é o direcionamento do professor à turma. “Nessa interação todos aprendem, com cada um fazendo aportes a partir de sua realidade, vivência, experiência e também do campo teórico no qual eles pesquisam”, avalia Luciano Sathler,  PhD em Administração pela FEA/USP e membro do Comitê de Qualidade e do Comitê Científico da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED).

O que a BNCC propõe?

A aprendizagem colaborativa pode ser alinhada ao longo de diversas competências da Base Nacional Comum Curricular. “Pensamento científico, crítico e criativo”, “cultura digital”, “argumentação”, “autoconhecimento e autocuidado” e “empatia e colaboração”, são alguns pontos presentes nas diversas competências do documento que dialogam fluentemente com o conceito de aprendizagem colaborativa. Isso oferece possibilidades de abordagens para o professor adotando uma postura próxima da realidade do estudante.

Há inúmeras maneiras de incentivar o conhecimento compartilhado de modo a atingir a vivência do jovem. A melhor delas, talvez, seja usar da tecnologia – que, além de ser presente no dia a dia da maioria dos estudantes, possibilita que sejam realizadas atividades fora dos muros da escola, estendendo os ensinos à própria comunidade. 

Mas, como trazer a tecnologia para a realidade do aprendizado colaborativo? A Editora do Brasil te dá algumas ideias:

Ideia 1 – Chats e grupos

Se usado com regras e um propósito claro entre a turma e o professor, chats se tornam uma extensão da sala de aula, configurando-se como um rico ambiente para troca de conhecimento. Uma vez que o professor medie as conversas (se necessário, é possível até determinar qual momento do dia o chat será aberto), as salas de bate papo transformam-se em ambientes onde ideias, dúvidas e o compartilhamento de saberes podem ser feitos em tempo real sem a necessidade de esperar o dia seguinte na sala de aula. A depender do conteúdo programático da matéria, é possível separar os chats em temas específicos. As próprias salas de bate papo podem ser substituídas por grupos privados no Facebook ou Whatsapp, assumindo a forma de um blackboard de um curso à distância.

Ideia 2 – Blogs

Pensemos, por exemplo, numa aula de Língua Portuguesa, cuja atividade seja realizar uma redação sobre determinado tema. A turma escreverá, o professor realizará a correção e o jovem terá a devolutiva. Nesta situação, a troca de ideias entre as estruturas da redação e a disposição dos temas no texto entre os próprios jovens não se dá por completa. A relação foi apenas do estudante, que fez a redação para o professor, que corrigiu e deu a devolutiva. Por que não incentivar a troca de conhecimentos entre os estudantes a fim de aprimorar a habilidade de todos para as próximas redações? 

Nesse exemplo, a utilização de blogs é a melhor solução para uma aprendizagem colaborativa. Mais do que redações, diversas atividades da turma inteira podem ser postadas pelo professor, tornando-as de conhecimento de todos. A intenção não deve ser, jamais, expor os jovens, mas, sim, facilitar e propagar o conhecimento. Assim, é possível criar debates, grupos de reforço e troca de ideias para que a turma aprimore seus conhecimentos, incentivando a ajuda mútua entre os estudantes.

Ideia 3 – Quizzes, jogos e outros

O motivo pelo qual aprendizagem colaborativa não é a mesma coisa que trabalho em grupo é simples: sem monitoria, os estudantes podem separar as atividades em partes onde “cada um faz sua parte” até que esteja finalizada. Isso não estimula o compartilhamento de ideias e a construção do conhecimento. Mas, isso não significa que grupos de trabalhos não sejam úteis. O que faz a diferença é como direcionar as ações.

Um exemplo é criar jogos de percurso ou tabuleiro – e as possibilidades são diversas. Após o professor definir qual o conteúdo curricular que o jogo abordará, ele poderá decidir se o jogo será com peças ou se o percurso será desenhado em espaços comuns (o pátio da escola, por exemplo), onde os próprios estudantes são as peças. 

A partir daí, dividindo a sala em grupos, quizzes são realizados com temas que envolvem o conteúdo a ser trabalhado. É recomendado mesclar perguntas de múltipla escolha com questões dissertativas, a fim de unir o grupo com o propósito de encontrar a melhor solução para a pergunta do quizz. Assim, para “vencer o jogo”, é necessário que os estudantes compartilhem seus conhecimentos entre si, em prol de um objetivo (lúdico) comum.

De olho no processo

Um dos pontos altos da aprendizagem colaborativa é a oportunidade do professor conseguir avaliar de modo efetivo o processo de ensino-aprendizagem do estudante. 

Independente da abordagem, é possível acompanhar os debates entre grupos de estudantes, observar seu empenho e a maneira que cada um optou para conseguir alcançar seus objetivos. Isso colabora para que o professor intervenha de maneira mais efetiva, dialogue com os jovens sobre o processo de aprendizagem, formando jovens mais abertos para a absorção de conhecimento e de novas realidades. 

Fontes:

https://novaescola.org.br/conteudo/16167/como-envolver-os-alunos-na-aprendizagem-colaborativa

https://escolasexponenciais.com.br/tendencias-e-metricas/aprendizagem-colaborativa-e-ensino-a-distancia-tendencias-da-educacao/