Os 5 erros de português mais comuns e como contorná-los

5 de novembro de 2019


Não há como negar: a língua portuguesa é, de fato, complexa. A grande quantidade de verbos irregulares, de aquisições de outras culturas e a distância entre som e letra (como, por exemplo, em “casa”, onde a letra “s” tem o som de “z”) fazem com que os alunos, em qualquer nível de ensino, apresentem dificuldades no aprendizado de português. 

A mágica da oralidade

Essas dificuldades nem sempre são reconhecidas ou percebidas. Isso porque convivemos com o idioma e nele aprendemos a usar nossa capacidade de nos comunicar oralmente. Ou seja, no período de aquisição de linguagem, que vai dos três aos sete anos de idade, nosso cérebro se “acostuma” com as estruturas da língua, independentemente de regras. 

Por exemplo: quando uma criança de 5 anos, ainda na Educação Infantil, e em etapa de desenvolvimento de escrita, diz: “eu fui ao parque ontem”, significa que ela já tem capacidade de flexionar o verbo irregular ir na primeira pessoa do pretérito perfeito. Evidentemente essa criança não tem formação, nem conhece conjugação verbal.

Não é errado errar

A capacidade cerebral de compreender intuitivamente a língua portuguesa pode causar certa frustração quando erramos na escrita. Não é incomum, inclusive, assistirmos a cenas de bullying em aulas de português quando algum aluno comete falhas básicas. Isso pode desmotivar e afastar o jovem das aulas, se ele se considerar inapto para adquirir o conhecimento da língua. 

Aqui, cabe ao professor compreender que não é errado errar, uma vez que a gramática tem lá suas pegadinhas. Assim, é preciso desestimular qualquer forma de intimidação dentro da sala de aula e passar a encontrar formas de contornar esses erros de português. 

A arbitrariedade das línguas

O primeiro passo para driblar as dificuldades dos alunos é aceitar um fato indigesto, mas verídico: a língua portuguesa, assim como muitas outras, apresenta uma dose de arbitrariedade, o que acrescenta a ela certo grau de complexidade. Por que casa se escreve com S e não com Z? Por que todas as palavras indígenas, como jiboia, se escrevem com J e não com G? Por que os verbos não flexionam todos da mesma forma na conjugação? De fato, existem, sim, explicações para todas essas e outras questões. Acontece, entretanto, que, para entender isso, é preciso conhecimento da origem da palavra e das alterações que ela sofreu ao longo dos anos até chegar à forma como a conhecemos para, finalmente, compreender suas regras – ou seja, para entender o motivo de existir a maioria das regras gramaticais, precisamos ter conhecimentos da etimologia das palavras.

Isso mesmo: várias flexões verbais e regras ortográficas remontam à gramática do latim, língua morta que originou o português. E não vale a pena voltar para o latim, ou para o tupi, para compreender algumas regras. Basta reconhecer que a língua tem regras mais complexas, e que há uma história por trás dessas convenções.

Mas isso é tudo? Não. O segundo passo é encontrar “métodos alternativos” para que os alunos compreendam a ortografia sem que, para isso, precisem ter aulas de etimologia. Sim, falamos exatamente dos famosos “macetes”, que acabam grudando na nossa cabeça até que, finalmente, compreendemos o método correto de lidar com algumas áreas espinhosas da língua. 

A Editora do Brasil selecionou os cinco principais erros de português e trabalhou formas mais fáceis, práticas e divertidas de contornar dificuldades em sala de aula.

5 erros de português (e como evitá-los)

1. “Há” e “a”

Na oralidade, “há” e “a” não têm diferença alguma. Na escrita, naturalmente, não é bem assim. “Há” é a forma do passado do verbo “haver”, função que não é desempenhada por “a”, que pode tanto se comportar como artigo, como indicador de distância ou momento no futuro. 

A melhor maneira de fazer os alunos pararem de cometer esse erro de português é incentivar que testem o verbo “fazer” para verificar se a frase se escreve com “há”. Por exemplo: Há/a 4 horas que espero no hospital → Faz 4 horas que espero no hospital → logo → Há 4 horas que espero no hospital.

2. “Há” e “atrás” na mesma frase

Uma vez entendido que “há” relaciona-se a um momento passado, fica mais fácil compreender que “há” e “atrás”, na mesma frase, formam uma redundância. Sim, Raul Seixas “errou”: “Eu nasci há dez mil anos atrás” é um exemplo deste tipo de erro. Quando se diz “há dez mil anos”, já sabemos que devemos considerar o passado. Assim, usa-se uma das duas formas: “há dez mil anos” ou “dez mil anos atrás”.

3. “Em cima” e “embaixo”

Aqui temos um exemplo clássico de confusão. “Em cima” se escreve separado; “embaixo”, junto. É um erro muito comum, entretanto, com frequência vemos “embaixo”, separado. 

Poderíamos dizer que o “b” sempre “chama” o “m”. Isso pode, entretanto, confundir os alunos, pois há casos que as duas letras não se atraem. Assim, existe uma forma de fixar essa regra de uma maneira bem mais divertida e intuitiva: faça um V com os dedos indicador e médio. Em cima, os dedos estão separados. Embaixo, os dedos estão juntos – assim como as palavras 

4. “Para mim fazer”

O clássico “mim não conjuga verbo”. É extremamente comum encontrarmos alunos que usem, na oralidade, “para mim fazer”, “para mim receber”, e tantos outros verbos flexionados em “mim”. Não há, entretanto, um macete muito prático para este erro de português, a não ser estimular a leitura e exercícios de conjugação. Afinal de contas, não existe a pessoa “mim” na hora de conjugar os verbos. 

5. “Mais” e “mas”

A diferença entre “mais” e “mas” na oralidade é mínima, sobretudo quando consideramos alguns sotaques brasileiros. Entretanto, “mais” refere-se à adição, sendo um advérbio de intensidade. Por outro lado, “mas” é uma conjunção adversativa, partícula que contrapõe duas ideias. Aqui, temos outro caso em que o incentivo à leitura é essencial para que se fixe na mente do aluno a distinção dessa pegadinha da língua portuguesa. 

Bônus: um terror chamado crase

Talvez nenhum erro de português se assemelhe ao uso indevido da crase. Diferentemente do acento agudo, a crase causa confusão por representar uma característica prosódica difícil de ser percebida na fala espontânea, que é, basicamente, a junção de duas letras “a”, nas posições de preposição e artigo. Para entender isso, vale a pena incentivar que os alunos façam exercícios se “separação” dessas letras “a”, e leiam a frase com calma. Por exemplo: Vou a festa → Vou a (prep.) + a (artg.) festa = Vou à festa.

Outra forma muito mais divertida de se compreender essa regra é fazer a brincadeira do ir / vir. Por exemplo: porque quando eu digo Vou a São Paulo  e Vou a Florianopolis não se usa crase, mas se usa quando digo Vou à Bahia e Vou à floresta amazônica? Para não errar aqui, basta usar a máxima: “Se vou A e volto DA, crase haverá. Se vou A e volto DE, crase pra quê?” Assim, teríamos:

Vou A São Paulo → (volto DE São Paulo) → Logo, Vou a São Paulo

Vou A Florianópolis → (volto DE Florianópolis) → Logo, Vou a Florianópolis

Vou A Bahia → (volto DA Bahia) → Logo, Vou à Bahia

Vou A floresta amazônica → (Volto DA floresta amazônica) → Logo, Vou à floresta amazônica.

Existem, naturalmente, outras regras que abrangem o uso da crase, assim como tantas outras convenções da língua portuguesa. O professor pode sempre usar e abusar de “macetes” quando existir algum. Entretanto, nem sempre isso será possível. Assim, é sempre recomendado o hábito de ler, mesmo que diversas frases, exemplos e brincadeiras possam ajudar na compreensão.

Assim, é imprescindível que, ao longo do ano letivo, o professor trabalhe, aos poucos e de acordo com o perfil da classe, o gosto e o prazer pelo hábito do consumo de livros. Além de ser extremamente prazeroso e gratificante para um professor de língua portuguesa ver sua sala empenhada na leitura, é só por meio dessa prática que é possível garantir que o aluno irá se familiarizar tanto com a língua escrita quanto com a oralidade.

Fonte:

https://novaescola.org.br/conteudo/5342/aprenda-crase-em-3-minutos-e-teste-em-questoes-de-concurso?gclid=EAIaIQobChMI7p3K1OPJ5QIVxAmRCh3YqQcoEAAYASAAEgIgHPD_BwE

https://portuguespratico.com/erros-de-portugues/

https://www.selecoes.com.br/especial/erros-de-portugues-18-mais-comuns/

https://www.bbc.com/portuguese/geral-43265788