3 ideias de atividades Gramática para a sala de aula

4 de outubro de 2019


Tão temidas quanto as aulas de Matemática, as atividades de Gramática fazem muitos alunos torcerem o nariz. E a comparação entre essas duas disciplinas não é à toa: em ambos os casos, caímos no comodismo da “decoreba”. Nas aulas de Língua Portuguesa, é muito comum que os alunos sejam induzidos a simplesmente decorar conceitos teóricos sem muita contextualização, e essa é a fórmula para o afastamento dos estudantes.

A culpa, entretanto, não pode ser depositada inteiramente no professor. A Gramática da Língua Portuguesa é espinhosa e complexa, e abordar seus conteúdos em sala de aula apresenta desafios também para quem está com a missão de ensiná-la. Como, então, deixar as aulas e as atividades de Gramática mais atraentes e prazerosas?

Primeiro passo: compreendendo a história da Gramática da Língua Portuguesa

Primeiramente, o professor deve entender que sim, a Gramática apresenta dificuldades específicas para o brasileiro. Para compreender isso, é preciso levar em conta dois aspectos: a história da nossa Gramática e o português falado no dia a dia. 

Portugal versus Brasil

A Língua Portuguesa, nativa de Portugal, é o idioma oficial do Brasil devido a um único fator histórico: o processo de colonização. Sob o domínio de terras lusitanas, o idioma do colonizador é imposto sobre o colonizado e, dessa forma, torna-se, a grosso modo, oficial. 

O que acontece com o Brasil, entretanto, é a miscigenação quando o assunto é o léxico. Antes da Língua Portuguesa aportar em 1500, diversas tribos indígenas já possuíam idiomas próprios, que emprestaram palavras e sons para a língua lusitana recém-chegada. Essa mistura tornou-se mais rica com a influência das línguas dos povos africanos, que vieram ao Brasil escravizados e também contribuíram com seus dialetos. Anos depois, a imigração de diversos povos, como os italianos e alemães, também colaborou para que a Língua Portuguesa no Brasil se tornasse mais rica e versátil. 

Apesar de todas essas misturas, ainda falamos “Língua Portuguesa” pois, apesar de todas as nossas particularidades linguísticas, o sistema gramatical ainda é o mesmo de Portugal. Adaptar essas nossas características únicas a uma Gramática que não previa tais interações com outras línguas torna-se uma tarefa difícil. Dessa forma, nasce um abismo de diferença entre o português que falamos e o português que está na Gramática oficial.

Oral versus escrito

Em tese, a mesma Gramática que usamos no Brasil deve ser usada em Portugal e em outros países que possuem a Língua Portuguesa como idioma oficial. É justamente aqui que os problemas com o ensino de Língua Portuguesa começam nas escolas, justamente por não haver tanta conexão entre o que é falado e o que é prescrito na Gramática.

Os portugueses, por exemplo, não sentem essa dificuldade de maneira tão extenuante quanto os brasileiros. Sem todas as influências linguísticas que nós fomos expostos, o português europeu possui uma aproximação muito maior entre a Gramática e o que é falado, o que torna o ensino mais fácil. 

Não é assim com o Brasil. Além da influência de outros povos, como os já citados, devemos considerar, também, diversos fatores que influenciam na forma com que os alunos falam o português – como a classe social, a região do país, o histórico da família, entre outros. É muito comum, por exemplo, ouvirmos “os menino saíram de casa”, com a plena convicção de que a produção está correta. O grande xis da questão, entretanto, não está apenas em apontar o erro ao aluno, fazendo ele compreender que está errado, mas sim em entender o motivo pelo qual ele não realizou a concordância, e como ensinar que o correto é “os meninos saíram de casa”. 

Assim, cabe ao professor estar sempre atento à sala de aula para que não existam brincadeiras maldosas que acuam o aluno que faz construções equivocadas – sem concordância, com falhas fonéticas, termos regionais (como zíper, em São Paulo, e fecho-éclair, no Rio de Janeiro), por exemplo. Isso causa o distanciamento e auto exclusão do aluno. É papel do docente apresentar a Gramática normativa como a forma “correta” do português sem que para isso se exclua e condene todas as diversas formas de falar e se expressar.

Contextualizando a Língua Portuguesa

Considerar o histórico da Língua Portuguesa no Brasil com todas as suas particularidades étnicas que distanciam a fala da normatividade já é, de certa forma, contextualizar a língua. Quando não compreendemos a origem do idioma que falamos, facilmente caímos na armadilha do “se falamos em Língua Portuguesa, então aprender a Gramática é fácil”.

Entender as diversas influências que o português brasileiro sofreu é caminho essencial para compreender a produção natural e espontânea dos alunos, oralmente ou por escrito, e só então extrair as melhores abordagens para que o estudante consiga compreender a Gramática normativa.

Segundo passo: Inovando com ideias de atividades de Gramática diferenciadas

Quando conseguimos identificar as particularidades da turma, traçando estratégias, devemos continuar contextualizando a Língua Portuguesa. Quando focamos apenas nas normas da Gramática, estamos justamente descontextualizando o estudo. Como o próprio nome diz, a Gramática normativa é um conjunto de regras que devem ser consultadas, apenas. Assim, oferecer à turma atividades que envolvam produções culturais, como músicas e filmes, pode ser uma ótima alternativa às atividades de Gramática tradicionais que se resumem na ideia da “decoreba”. Quanto mais o pensamento crítico do aluno é exigido, quanto mais ele precisa pensar sobre os conceitos, sem necessariamente decorá-los, mais o aluno sentirá prazer na aula. Por isso, a Editora do Brasil separou algumas ideias de atividades para trabalhar com a Gramática. Confira a seguir:

Poemas e poesias

A poesia, além de ser um termômetro apurado dos eventos sociais de uma época, é, talvez, a produção cultural que mais dialoga com o ensino de Gramática. Isso por conta da enorme quantidade de figuras de linguagem, neologismos e construções gramaticais para que o poema consiga ter a forma que o autor quer que ele tenha. Considere, por exemplo, Pronominais, de Oswald de Andrade:

Dê-me um cigarro 

Diz a gramática 

Do professor e do aluno 

E do mulato sabido 

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira 

Dizem todos os dias 

Deixa disso camarada 

Me dá um cigarro.

Em apenas nove linhas, o aluno pode ser instigado a identificar diversas figuras de linguagem (como a personificação da Gramática como um ser que “diz” algo), a relação da concordância (bom negro e o bom branco / da Nação Brasileira / que dizem todos os dias) e do próprio rompimento entre o português falado e escrito (dê-me um cigarro – me dá um cigarro). Dessa forma, vale a pena fazer uma busca de poemas adequados ao ano da turma e retirar dele tudo o que a disciplina exige.

Músicas

Assim como os poemas, as músicas brasileiras permitem que o aluno se envolva numa infinidade de figuras de linguagens, rimas e outros conceitos que envolvem a produção escrita em verso. Mais do que isso, a música nos traz a melodia e o ritmo, fatores que auxiliam na assimilação do conteúdo, tanto para se recordar quanto para compreender.

Um ótimo exemplo é Construção, de Chico Buarque, canção que, além de se fazer valer de metáforas e rimas em absolutamente todos os versos metricamente trabalhados, ainda brinca com o ouvinte ao inverter o conceito inteiro das frases com a simples troca de uma única palavra.

Cinema e teatro

O cinema e o teatro nos apresentam as variantes de nosso idioma. Quem nunca se pegou dizendo “num sei, só sei que foi assim”, depois de assistir O Auto da Compadecida? É através dessas produções que temos contato com regionalismos e outras construções do português oral, transcendendo as paredes da sala de aula e tornando o ensino mais rico e diverso. Além do Auto da Compadecida, também são notáveis, a depender da faixa etária dos alunos e classificação indicativa, obras como Cidade de Deus, Dona Flor e seus Dois Maridos, Que Horas Ela Volta?, Terra em Transe e a mais recente Bacurau.

Fontes:

https://zonadapalavra.wordpress.com/2014/11/26/gramatica-contextualizada/

https://www.superprof.com.br/blog/cancoes-filmes-e-livros-para-conhecer-o-idioma-brasileiro/

http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252005000200015

http://www.ebc.com.br/infantil/voce-sabia/2015/05/lingua-portuguesa-ou-lingua-brasileira

https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/lingua-escrita-e-oral-nao-se-fala-como-se-escreve.htm

https://www.webartigos.com/artigos/o-portugues-falado-e-escrito/31885