180 anos de Machado de Assis: o ensino de literatura no Ensino Fundamental 2

1 de agosto de 2019


Em 2019, recordamos os 180 anos do nascimento de Machado de Assis, maior nome da literatura brasileira. Renome para tal título não falta: a escritora americana Susan Sontag, por exemplo, caracteriza o autor como “o maior autor saído da América Latina”. Mesmo assim, mais de um século após seu nascimento, ainda passamos por dificuldades quando o assunto é Machado de Assis e o ensino de literatura no Ensino Fundamental 2.

Não é raro ouvirmos argumentos de que os alunos não se interessam pelos clássicos, que a escrita é difícil para os pré-adolescentes ou que seria melhor abordar textos mais fáceis para os anos finais do Ensino Fundamental. Isso não deveria ser um obstáculo: segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o campo artístico-literário é abordado em todos os níveis do ensino básico, e obras como Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro são algumas das preferidas do Ensino Fundamental 2. Mas, como conquistar  o interesse do aluno e tirar de letra o ensino de literatura na escola?

 

Os segredos da literatura no Ensino Fundamental 2:

Atenção ao interesse do aluno

Ninguém gosta de fazer nada forçado e com a literatura não é diferente. A experiência de ler um livro que passou pelo filtro do nosso gosto particular é completamente diferente da leitura forçosa de algo que não nos agrada. Adaptar as obras na escola é encontrar caminhos diferentes para se abordar os mesmos conteúdos. 

É importante, então, conhecer muito bem os alunos. Ainda que seja uma tarefa difícil quando pensamos em turmas grandes, tentar compreender o gosto geral dos estudantes torna possível uma abordagem mais particular da literatura nos anos finais do Ensino Fundamental, tornando a aula significativamente mais agradável, leve e dinâmica. Um aluno que goste de filmes de terror, por exemplo, sentirá mais prazer em ler e estudar A Causa Secreta e Sem Olhos, contos macabros machadianos com traços de Edgar Allan Poe, do que Um Apólogo, que tem um cunho mais social. 

 

Plano de aula bem estruturado

Identificar a preferência do aluno é o primeiro passo para introduzir o estudo de literatura na escola, mas não é tudo. Após acendido o gosto pela leitura na turma, chegará, por exemplo, o momento de literaturas mais densas como os romances. É nessa hora que é importante ter um plano de aula muito bem estruturado e que aborde os estudos literários em parceria com outros componentes curriculares.

A melhor maneira de fazer isso é o estudo interdisciplinar, entendendo os contextos históricos da obra e, a partir daí, criando planos de aulas em conjunto com outras matérias. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, por exemplo, temos uma crítica ferrenha ao regime escravocrata, que teve seu fim apenas em 1888. Estudar esse tema anteriormente pode tornar a leitura mais agradável e contagiante. Entender, nas aulas de Ciências, sobre animais de laboratório, pode antever a leitura de A Causa Secreta – e assim por diante.

 

Leitura compartilhada, versões adaptadas e outras produções

Ainda que seja tentador, principalmente para os alunos, não devemos substituir a obra literária clássica por fontes audiovisuais. Isso não significa, entretanto, que séries e filmes não possam servir de apoio e complemento. Muito pelo contrário: apresentar episódios de séries ou cenas de longas-metragens podem ilustrar o que o jovem lê, atiçando sua curiosidade e criatividade. É possível realizar também o estudo comparativo, lendo uma passagem do livro e apresentando a cena correspondente.

Este tipo de trabalho já utiliza técnicas de leitura compartilhada. São nesses momentos que, além de “visualizar” o que se passa nas páginas da obra, os alunos enriquecem o vocabulário através da troca de conhecimento entre si mesmos e entre a turma e o professor. Se, ainda assim a dificuldade persistir, uma ótima saída é a recomendação de versões adaptadas, que utilizam um vocabulário mais próximo ao cotidiano do estudante. Deve-se ter em mente, entretanto, que a melhor escolha é sempre aquela que não se distancia muito do texto original.

 

O apoio do livro didático

Apesar da diferenciação entre literários e didáticos, este segundo tipo de livro é ferramenta essencial para se abordar os clássicos da literatura na sala de aula. Além de sempre alinhados às orientações da BNCC, os conteúdos dos didáticos ultrapassam a base da “vida e obra” do autor e as principais características do romance ou conto. É o caso do Apoema Português, da Editora do Brasil. Aprovado no PNLD 2020, o livro promove autonomia para o aluno, além de apresentar uma seleção de pré-textos que antecedem o estudo do tema em questão.

Além da gramática e ensino da língua materna, o Apoema Português também promove o elo entre literatura e atualidade, tratando de temas transversais e relevantes para a faixa etária do Ensino Fundamental 2. Assim, o aluno se sente mais próximo das obras que antes considerava distante, percebendo  o caráter atemporal dos clássicos, que se mantêm atuais mesmo mais de um século após suas publicações.

 

FONTES:

https://novaescola.org.br/conteudo/11820/como-trabalhar-classicos-da-literatura-no-ensino-fundamental

https://horadopovo.org.br/aos-180-anos-do-nascimento-de-machado-de-assis-estudantes-resgatam-sua imagem/

http://basenacionalcomum.mec.gov.br/

https://internacional.estadao.com.br/noticias/nytiw,um-mestre-contador-de-historias-do-brasil-do-seculo-19,70002382681